Tuesday, October 10, 2006

Nas Profundezas da Vogue

Pode soar estranho, mas o maior mérito de “O Diabo Veste Prada” talvez seja o fato de o filme se levar a sério. Para falar da maior revista de moda do mundo e dessa indústria que movimenta bilhões, o diretor David Frankel acertou ao não ridicularizar o seu tema.
Na trama, a desajeitada Andrea é uma jornalista recém-formada sem nenhum senso de estilo que resolve tentar o emprego de assistente da editora-chefe da maior revista de moda do mundo. A intérprete, Anne Hataway, não acrescenta muito, apenas repete sua já conhecida fórmula de “patinho feio que vira cisne”, como em “O Diário da Princesa”. Acaba servido de ponte para Meryl Streep brilhar.
No papel da temida e egocêntrica Miranda Priestly, a atriz arranca gargalhadas com o jeito calmo, inabalável e onipotente da personagem, que assim como o enredo, é baseada no livro de mesmo nome, escrito pela ex-assistente de Ana Wintour, editora da “Vogue”. Ou seja, o que vemos na tela nada mais é do que uma versão exagerada da redação e dos bastidores do poder da imprensa de moda.
Calcado nesta realidade, fica mais fácil esquecer o romance clichê e as situações senso-comum para se divertir com as trapalhadas de Andrea e o conflito de viver para o lado profissional e esquecer o pessoal. É aí que entra a discussão mais interessante do filme: a ambição pela fama e poder. O caminho escolhido é melhor do que o que discutiria a futilidade dos ricos e bem-sucedidos empresários do ramo.
Em uma das cenas mais memoráveis, Andrea ri quando uma estilista fica em dúvida entre dois cintos muito semelhantes. Miranda, irritada pelo deboche sobre sua profissão, dá uma lição na assistente, explicando que quando ela vestiu o estranho suéter largo de manhã e pensou que estava alheia à moda, ela estava usando um produto escolhido pela revista para uma coleção de anos atrás, que depois de passar por muitas etapas, foi parar no brechó onde ela o achou.
O filme acaba mostrando também o poder feminino no dia de hoje. Os homens retratados são fracos e secundários mesmo quando são bem-sucedidos, mas ainda assim sentem-se superiores. Como quando Andrea diz a um jornalista que se Miranda fosse um homem, só falariam de sua competência e não do seu jeito durão.
Usando uma trilha sonora pop e muitas cores, luzes e figurinos caprichados ( e milionários ), “O Diabo Veste Prada” cai no final moralista e na lição de que o dinheiro não traz felicidade. A história é bobinha e não traz nada de inovador, mas ainda assim vale pela curiosidade de saber um pouco mais do que está por trás de tanto glamour e dinheiro e pelas piadas divertidas e leves. Melhor que “Sessão da Tarde”, mas sem chegar ao horário nobre.

Confira abaixo o ranking dos filmes vistos pelo TeleCinese no Festival do Rio 2006 e as notas de cada um:

Saturday, October 07, 2006

Incompreensão humana


Na Bíblia, a torre de Babel foi construída pelos descendentes de Noé e foi castigada por Deus, que fez com que cada um falasse um idioma diferente. Assim, ninguém se entendia dentro dela. É Babel que dá o nome ao filme de Alejandro Gonzalez Iñárritu, onde a incompreensão é um dos temas principais.
Usando o mesmo estilo que o consagrou, o roteirista Guillermo Arriaga ( de “21 Gramas” ) usa histórias desencontradas que se cruzam no final. O enredo é construído mostrando um mesmo tiro que atinge a vida de um casal americano, uma babá mexicana, uma família marroquina e uma adolescente e um pai japoneses. Mesmo que a ligação com a história soe um pouco forçada no último caso, o resultado não ficou comprometido.
Mais do que turistas americanos tentando falar inglês no Marrocos ou uma jovem surda-muda tentando ter uma relação amorosa, a incompreensão do filme é mais subjetiva, vem da alma de cada personagem.
O filme ainda traz um bom paradoxo com a diluição de fronteiras, aproximando cantos do mundo numa subversão do espaço físico, mas totalmente possível nos dias de hoje – e sem mencionar a Internet.
Brad Pitt e Cate Blanchet fazem atuações sóbrias na medida que o filme pede, Gael Garcia Bernal aparece quase inutilmente ( apesar de boa atuação, o personagem é quase dispensável ) e os atores desconhecidos dão a credibilidade que marca o tom de Babel.
A atmosfera pesada estende-se por todo o filme, mas é minimizada por um final esperançoso. Ao fim, tem-se a impressão de que ninguém está falando a mesma língua. Por mais que se entenda as palavras, a compreensão depende de muito mais.

Wednesday, October 04, 2006

A sutileza de uma guerra


Um dos conflitos mais duradouros da história mundial, a briga entre irlandeses e o grupo radical IRA, pode ser explicado em sua origem nesse filmes.
Através da história de uma família camponesa do interior da Irlanda, o diretor Ken Loach mostra a arrogância e as atrocidades do exército britânico dentro da Irlanda, que leva dois irmãos a se juntarem a amigos para lutar contra a ocupação inglesa no país.
A relutância inicial do jovem médico Damien em fazer parte do movimento pela independência, transforma-se em obstinação e coragem que o leva a correr riscos e a lidar com o sofrimento pela perda de seus companheiros.
O filme causa uma aflição constante em ver os guerrilheiros sendo presos ou as mulheres – entre elas muitas idosas – sendo humilhadas e agredidas pelos oficiais. Essa aflição torna-se maior quando imaginamos que a realidade muitas vezes correspondeu a essa ficção.
Com um elenco afiado, ótima fotografia e uma direção primorosa, “The Wind That Shakes the Barley” faz jus à Palma de Ouro conquistada em Cannes, não só pela qualidade do roteiro e da produção, mas pela importância do tema e o modo como ele foi retratado na tela.
Mesmo que pensa para um lado, Ken Loach evita julgamentos e constrói seus argumentos na sutileza do vento que balança as plantações de cevada.

Sunday, October 01, 2006

Para chegar ao paraíso


Para filmar “O Céu de Suely”, o diretor Karim Aïnouz levou os atores para uma pequena cidade do Ceará onde o filme se passa, deu aos personagens os nomes de seus intérpretes, confiscou as roupas do elenco ( deixando apenas os figurinos ) e os obrigou a passar dois meses morando no lugar onde a trama se desenvolve.
O resultado foi um realismo incrível que aliado a uma boa história contada de modo competente, resulta em um belíssimo filme. Nele, a jovem Hermila deixa São Paulo e volta para sua pobre cidade-natal com um filho a tiracolo, esperando pelo marido que nunca volta. Desiludida, ela logo percebe que precisa deixar o lugar novamente e para conseguir dinheiro, rifa o próprio corpo por uma noite.
No lugar de um filme pesado, o diretor apresenta tudo de uma forma suave e em certos momentos quase romântica, mas ainda assim crua. Faz um jogo de esconder e mostrar que quebra um pouco a narrativa, dando a possibilidade de a imaginação do espectador também trabalhar.
No decorrer do filme, os personagens vão tomando forma e a história envolve de maneira que só um elenco de tirar o fôlego consegue com tanta perfeição. A realidade mostrada na tela chega a ser surreal para boa parte do público, mas é encarada com tanta naturalidade que torna-se compreensível.
No meio de tanta qualidade, a fotografia consegue se destacar ainda mais, fazendo jus ao seu realizador, Walter Carvalho. Não só os atores, mas a desconhecida e castigada paisagem nordestina surge de uma forma a encher os olhos.
Nas palavras do diretor, “O Céu de Suely” é um filme sobre a sutiliza da alma humana e a conclusão a que se pode chegar é exatamente essa.

Thursday, September 28, 2006

Todo mundo tem um pouco


Coqueluche do Festival do Rio de 2006, “C.R.A.Z.Y.” foi marcado por sessões lotadas e um sucesso resultante da repercussão “boca a boca”. Tanto que, segundo o blog Cinema Mon Amour, a estréia em circuito foi antecipada para o dia 06 de Outubro.
No filme, uma história aparentemente banal: família canadense de classe média constituída por um casal feliz e cinco filhos de personalidades muito diferentes: um rebelde, um intelectual, um esportista, um sensível e um bebê.
Longe do fácil caminho de explorar conflitos familiares e a relação da família com a política e a sociedade, o filme mostra a evolução do protagonista Zack através dos anos, calcado em seu gosto musical, de Pink Floyd ao punk.
Na fase David Bowie, o personagem atravessa a fase mais confusa, quando a dúvida em relação a sentimentos e sexualidade – presente em qualquer adolescente – atinge seu ápice, no que é provavelmente o melhor momento do filme.
Tudo em “C.R.A.Z.Y.” é muito real e natural, incluindo a brincadeira que a história faz com a fé e a religiosidade da família. O diferencial está na maneira de contar do diretor Jean-Marc Vallée, que faz do enredo simples, um filme leve mas extremamente interessante.
No final, tem-se a impressão de que o filme foi inspirado em uma história real, mas a verdade é que ela reflete muitas histórias reais: se não aconteceu, poderia ter acontecido com você ou qualquer um.

Thursday, September 21, 2006

Fórmula velha, mas eficiente


Na contramão da nova tendência de filmes realistas que trocam a fantasia por um enredo próximo ao real, “Dália Negra” retorna aos anos 40, não apenas na história apresentada no filme, mas em toda a sua concepção. Desde a primeira cena, o espectador mergulha na década longínqua e tem a impressão de estar assistindo uma produção de 60 anos atrás, mas com modernos efeitos de câmera e uma qualidade indiscutível.
O diretor Brian De Palma reconstitui uma Hollywoodland excitante, onde tudo pode acontecer. Do narrador à trilha sonora, tudo contribui para a atmosfera antiga e deslumbrante do meio do século, onde aspirantes a atriz faziam de tudo para conseguir um papel no cinema, conquistar fama e fortuna e se tornar uma grande diva.
A produção começa com policiais boxeadores lutando como se fossem super-heróis. Sr. Gelo e Sr. Fogo, como são apelidados, rapidamente ganham importância e um caso: uma aspirante a atriz assassinada. Começa então uma corrida atrás de pistas. Enquanto o protagonista Bucky vai trilhando um caminho perigoso e envolvendo-se com a filha de um poderoso milionário, o parceiro dele, Lee, beira a loucura em uma obsessão por resolver o crime. No meio de tudo, a sensual Kay, teme pela vida do namorado Lee e aproxima-se de Bucky.
Scarlet Johansson acerta o ponto exagerado como pedem as grandes divas de 40. Josh Hartnett funciona bem como ator principal, em uma interpretação normal. E Hillary Swank faz com que o público esqueça que ela não foi provida com muita beleza e consegue passar uma imagem sexy na ótima interpretação e caracterização.
De Palma acerta na condução, mas a ansiedade toma conta do final, quando uma série de revelações excita mas confunde. O roteiro cheio de surpresas é bem amarrado, mas a idéia de deixar restrito à última hora do filme acaba não sendo tão eficiente.
A atmosfera bem ao estilo de filmes de gângster faz com que “Dália Negra” seja um exemplo do bom e velho “cinemão”. Mesmo trazendo pouca inovação, o filme explica porque ainda gostamos dos clássicos.

Friday, September 08, 2006

Atriz de Aço

Quando surgiu em 1993, o seriado “Lois & Clark: The New Adventures Of Superman” conquistou não só fãs dos quadrinhos do super-herói, mas um público enorme nos Estados Unidos. Logo, a Globo trouxe os episódios em versão dublada, batizado de “As Novas Aventuras do Superman” e mais tarde sem o “novas”, ficando apenas “As Aventuras do Superman”.
O sucesso no Brasil também foi imediato e levou a emissora a colocar a série em horário nobre na Quinta-feira e depois no Domingo ( com constantes mudanças, é verdade, mas durante certa época foi ao ar depois do “Fantástico” ). Além disso, foram exibidos todos os episódios, até o último, o que é bem raro de acontecer com enlatados americanos na TV aberta do Brasil.
Mas o que mais chamava a atenção no programa não era o bom roteiro, nem o humor, nem as aventuras bem boladas. Era um fator que já podia ser antecipado pelo título original da série: Lois Lane. Mais do que o par romântico do protagonista Clark Kent / Superman, a Lois aqui era também protagonista e peça-chave no desenvolvimento de todos os episódios e temporadas.
E o sucesso dela deve-se muito ao talento de sua intérprete, Teri Hatcher. A atriz enfeitiçou os homens que acompanhavam a série e serviu de modelo para as mulheres, construindo uma personagem forte e diferente das outras versões que a repórter teve em filmes e gibis.
O sucesso de Teri elevou o salário da atriz e na revista “Herói”, destinada a desenhos animados e seriados infanto-juvenis, foi criada a seção “Cantinho da Lois”, com curiosidades e fotos dela em todas as edições, mostrando que a paixão por Teri e Lois era quase unânime.
Na última temporada, o salário de Teri já havia ultrapassado o de Dean Cain, intérprete do Superman, e hoje é tido como um dos motivos que levou a Warner a cancelar o show.
Depois de fazer uma ponta em um filme de outro herói, 007, Teri sumiu do mapa e parecia fadada a ser lembrada apenas por “Lois & Clark”. Mas em 2005, ela engatou em “Desperate Housewives”, sucesso de público e crítica que garantiu o Emmy (uma espécie de Oscar da TV americana) de Melhor Atriz, levando a bela às lágrimas, principalmente pelo fato de nunca ter sido indicada a nada anteriormente, como ressaltou no discurso.
A maturidade que Teri conquistou desde o fim da série do homem de aço, em 1997, até o papel de destaque na nova série, oito anos depois, é evidente. E garante aos fãs saudosos da intrépida jornalista do “Planeta Diário”, um conforto em ver que mesmo se transformando em Susan, Teri continua nos rendendo bons momentos em frente à TV.

Friday, July 21, 2006

Sem pudor

Transamérica ( EUA, 2005 )
Dirigido por Duncan Tucker

Comédias sobre transexuais ou qualquer outro gênero sexual diferente da maioria tendem a resultar em filmes pobres e medíocres. Mas esse não é o caso de “Transamérica”, uma feliz exceção.
No ‘road movie’, a transexual Bree descobre que tem um filho duas semanas antes de realizar a operação definitiva de troca de sexo e a condição imposta pela psiquiatra para que ela autorize a operação é que Bree vá conhecer e ajudar o filho desconhecido. Começa então uma viagem de carro de Nova York a Los Angeles onde os dois vão se conhecendo, sem que ele saiba que aquela mulher que se passa por missionária cristã é na verdade seu pai Stanley, que ele nunca conheceu.
O grande trunfo do diretor é dosar comédia e drama no tom certo. Os risos dos espectadores são contidos, não escancarados, assim como as situações do filme. Os momentos mais pesados não são suavizados por artifícios, mas sim pela realidade, já que entende-se que aquilo ali é comum dentro do contexto.
Os personagens vivem vidas outside, ela com um sub-emprego em um restaurante mexicano, ele com um passado de garoto de programa e vislumbrando uma carreira no cinema pornográfico. O que os une é a dificuldade de enxergar-se de verdade, o que precisa ser feito para que os outros os enxerguem.
Observar a relação dos dois sendo construída é talvez um dos pontos mais interessantes, a medida que Toby vai conhecendo e confiando em Bree, que oferece o cuidado que ele nunca teve. Sem perceber, os personagens vão adquirindo sentimentos típicos de pai e filho. Em certos momentos, é mais interessante observar a cabeça de um “menino perdido” de 17 anos, que alheio a convenções e normas da sociedade, confunde sentimentos fraternos com sentimentos quase incestuosos, resultado de seu passado de abuso e prostituição.
Felicity Huffman faz uma interpretação assustadoramente real que lhe rendeu a indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Ela passa anos-luz da interpretação ok da vencedora Reese Whiterspoon, mas isso aumenta ainda mais o sentimento de exclusão da sociedade que a personagem tem. E o novato em cinema Kevin Zegers cumpre bem seu papel, mas fica um pouco escondido atrás da beleza.
Para dar certo, o filme precisava despir-se de todos os pudores. E é o que acontece. O diretor não se preocupa em mascarar nada e compõe os ambientes de modo que uma história underground não se torne um filme incômodo ou pesado. Mais do que o encontro entre um pai transexual e um filho problemático, “Transamérica” é o encontro de duas pessoas incompletas que precisavam se conhecer para encaixar a peça que faltava no quebra-cabeça.

Saturday, May 27, 2006

TV aberta no Brasil

A TV digital chega em breve ao Brasil e a discussão sobre o fato é muita. Boatos e especulações estão por toda parte e não sabemos se estamos sendo manipulados ou realmente está havendo uma grande confusão ou conflito de interesses. A escolha do sistema que será adotado no Brasil parece uma grande novela, cujo final está sendo adiado cada vez mais pelo governo.
É quase certo que o padrão japonês será o escolhido, já que as emissoras de TV aberta estão se mobilizando em uma campanha em prol dele. Apesar de ser o mais moderno e provavelmente mais adequado, o fato que justifica isso é que com o japonês, não será permitida a entrada de novos canais gratuitos, o que arruína, por exemplo, os planos das empresas de telecomunicação de integrarem esse lucrativo filão de espectadores. O padrão permite uma maior qualidade de programação ou uma divisão em diferentes programações em um mesmo canal. As emissoras vão optar pela maior qualidade, já que arcar com mais de uma programação simultânea não seria de interesse delas. E assim a banda de canais não pode ser estendida.
Em tempos de TV por assinatura, muita gente não sabe quais são os canais da TV aberta, transmitidos para qualquer casa que possua uma antena sem que o dono do aparelho de televisão precise pagar para assistir. Existem dois sistemas de antena, o VHF e o UHF. O segundo traz mais canais, mas não está disponível em todos os lugares. O primeiro é o sistema que pode ser, teoricamente, sintonizado em qualquer loca. Fiz um panorama das emissoras de TV presentes no Brasil atualmente:

TVE Brasil ( Canal 2 )
A TV estatal conta com a maior qualidade de conteúdo de programação, trazendo atrações educativas e culturais. Existe um investimento em bons programas infantis e muitos programas de entrevistas e debates. Sem fazer propaganda do governo, conta atualmente com um público formado por intelectuais, entre estudantes e professoras em uma maioria.

Globo ( Canal 4 )
Enquanto a TV Tupi, primeira emissora brasileira de televisão, entrava em decadência, a TV Globo investia em profissionais e conquistava o público. O lançamento foi polêmico, já que o dono, o empresário Roberto Marinho, utilizou recursos da empresa estrangeira Time, proibido pela legislação da época. Hoje, a Globo tem um poder absoluto e hegemonia incontestável, atende a todas as classes e possui a melhor qualidade técnica. A quinta maior emissora do mundo, porém, não é unânime: freqüentemente é acusada de manipulação. Já ajudou a eleger e derrubar presidentes e já foi tema de um documentário da BBC com várias acusações.

Bandeirantes ( Canal 5 )
A Band já foi “o canal dos esportes”, já teve novelas e já competiu pelo primeiro lugar de audiência. Hoje, não entra na briga e sobrevive com um bom público interessado nos esportes que transmite, além de um jornalismo competente e programas de variedades, alguns de fofocas e anúncios e outros interessantes com boas entrevistas. Ganha destaque em eventos como o carnaval, mas não é uma grande ameaça a Globo, com quem mantém uma boa relação. Possui dois canais segmentados, o "Band News" e o "Band Sports".

Rede TV! ( Canal 6 )
Mais nova de todas as emissoras, entrou no lugar da TV Manchete, que era controlada pela família Bloch e afundou em dívidas após um desastrado investimento em tecnologia. Começou bem, com seriados antigos, programas interessantes e a promessa de crescimento. Com o tempo, desandou no popularesco, sendo invadida por programas de fofocas e baixarias, do mais baixo nível.

Record ( Canal 7 )
Controlada pela Igreja Universal, a emissora com maior conteúdo religioso na programação nunca freqüentou a primeira posição na preferência do público, até o ano passado. Com um investimento pesado em tecnologia e em profissionais que tirou da Globo, a emissora copiou o padrão da líder de audiência e conseguiu aparecer. Demitiu o jornalista Boris Casoy, que imprimia opiniões fortes ao principal telejornal, e trocou por um casal de âncoras e um jornalismo mecânico ao estilo do “Jornal Nacional”, principal produto informativo da Globo. Além disso, a novela “Prova de Amor” conseguiu vencer a audiência da concorrente global e ameaçou até a audiência do JN, utilizando trama e atores conhecidos há muito pelos telespectadores.

CNT ( Canal 9 )
Lanterninha da audiência televisiva, o CNT vende espaços na programação e apresenta programas destinados ao público mais ignorante. Com péssima qualidade técnica, falta de sincronia entre áudio e vídeo e programas com baixaria e péssimo conteúdo. Pouca coisa salva na emissora, mas às vezes surge algum destaque que é logo capturado pelas emissoras maiores.

SBT ( Canal 11 )
Criado há 25 anos, o canal tem como dono Silvio Santos, ex-apresentador da Globo e um dos maiores comunicadores do país. Dedicado a uma faixa da população menos instruída e de classes sociais de média para baixo, com algumas exceções, o canal se perde um pouco ao tentar ter uma qualidade grande filmes e jornalismo misturado a novelas mexicanas e programas de auditório barato. Durante anos em segundo lugar na audiência, vem perdendo terreno para a Record e obrigado os diretores a realizarem mudanças bruscas e inesperadas na grade.

Tuesday, May 23, 2006

Segredo nosso de cada dia

Caché (França, 2006)
Dirigido por Michael Haneke

Poderia ser um enredo de thriller americano: um casal comum e bem-sucedido começa a receber fitas de vídeo que monitoram a entrada e saída da casa e desenhos de um boneco jorrando sangue. Poderia, mas não é.
Em “Caché”, o diretor austríaco Michael Haneke se mantém fiel ao estilo de seu último trabalho lançado no Brasil, “A Professora de Piano”, de 2001: muitos planos parados e uma subjetividade exacerbada que esconde do espectador mais desavisado o verdadeiro tema do filme.
O enredo nos conduz a uma história de desestruturação familiar, onde segredos banais tomam dimensões exageradas e revelam aspectos da vida cotidiana que os personagens inconscientemente escondiam. A vida do casal e do filho de 12 anos passa a ser manipulada pela pessoa que envia as fitas e assim desenterra fantasmas do passado. “Caché” não entra no rótulo de filme de mistério, mas pode ser definido como um filme misterioso. Não pela condução do roteiro, mas pela multiplicidade de interpretações e dúvidas que é capaz de produzir.
Beirando o pânico, a dona-de-casa vivida por Juliette Binoche questiona os segredos que o marido interpretado por Daniel Auteuil não acha necessário expor. Sem escancarar seu foco, o longa é conduzido em uma narrativa quase entediante que transpõe exatamente o ritmo em que vivem os personagens. A sutiliza e o lugar-comum ajudam a compor e entender a idéia de que não importa quem ou por que as fitas estavam sendo enviadas, mas o quão vulneráveis são as pessoas.
Em “A Professora de Piano”, a personagem de Isabelle Huppert esconde a perversão sexual atrás de uma postura rígida e fria. Em “Caché”, o protagonista George esconde outro tipo de perversão, a de um ato egoísta quando criança, atrás de uma apatia melancólica.
Mais do que um drama sobre a queda de uma família normal, o filme é um conto atual sobre o poder das imagens, da falta de privacidade e da tentativa das pessoas de seguirem com suas normas e apatia pré-estabelecidas.
A produção francesa brilha e brinca com o título (“caché” significa “escondido”) e com o espectador, revelando-se aos poucos e provocando sensações próximas da realidade cotidiana de cada um.

Monday, May 08, 2006

Futuro que nos aguarda

Estar na capa do caderno de cultura do principal jornal do Rio não é para qualquer um. A repercussão é imediata e pode abrir portas, dependendo do motivo da capa. Eduardo Valente sentiu esse gostinho na terça-feira, dia 02 de Maio. O motivo é que é o terceiro ano consecutivo em que o cineasta representa o Brasil com um curta-metragem no Festival de Cannes.

Formado em cinema pela UFF, Eduardo Valente era crítico de cinema no site "Contracampo" e venceu a competição de curta universitário com "O Sol Alaranjado". A vitória surpreendeu o próprio diretor, já que concorria com uma super-produção de uma universidade particular de Berlim. O presidente do júri do festival, o diretor Martin Scorsese (de "Taxi Driver") disse que escolheu o curta brasileiro porque o lembrou de quando era quando fazia seus primeiros filmes.

"O Sol Alaranjado" conta a relação de uma filha e de um pai doente. Já "Castanho", segundo curta dirigido por Valente e que esteve no Festival em 2005, é uma comédia sobre a beleza e a vaidade feminina. E o mais recente, o policial "O Monstro", que concorrerá no festival desse ano, conta um episódio trágico na vida de um pescador. O curta faz uma crítica à mídia televisiva.

As três produções, de qualidade excepcional, foram exibidas na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, junto com dois vídeo-clipes da banda Los Hermanos, que está presente na trilha sonora dos três curtas do cineasta.

Em entrevista concedida a mim para a TV PUC Rio, Valente disse que o papel dos novos cineastas é mostrar uma visão do mundo diferente das que vemos atualmente. Ele explicou que a maior vantagem do prêmio em Cannes foi a visibilidade que os curtas tiveram para o público em geral. E finalizou contando que acredita que o mercado de cinema brasileiro está melhor e que mesmo com alguns problemas a resolver, pode estar caminhando para o que seria o ideal.

Tuesday, April 25, 2006

E a pipoca de ouro vai para...

Longe do marasmo e da (quase) previsibilidade do Oscar, a premiação de cinema da MTV Americana, o MTV Movie Awards, traz categorias divertidas e indicados que estão longe de serem os melhores, mas normalmente são os mais carismáticos. Ou pelo menos aqueles que conseguem conquistar o gosto de um público difícil de ser agradado, o público jovem.
Na última terça-feira, foram anunciados os indicados à edição 2006 do prêmio. Esse ano, os prêmios de “Melhor Ator” e “Melhor Atriz” viraram apenas “Melhor Performance”, com seis indicados. Além disso, as categorias de “Melhor Seqüência de Dança” e “Melhor Seqüência de Acão” deixaram de existir e o Movie Awards ganhou a categoria “Melhor Atuação Assustada”.
Confira os indicados, que serão escolhidos pelo público do mundo todo através do http://www.mtv.com/ :

Melhor Filme

O Virgem de 40 Anos
King Kong
Sin City
Os Penetras Bons de Bico

Melhor Performance

Joaquin Phoenix – “Johnny e June”
Jake Gyllenhaal – “O Segredo de Brokeback Mountain”
Rachel McAdams – “Vôo Noturno”
Steve Carell – “O Virgem de 40 Anos”
Terence Howard – “Ritmo de um Sonho”
Reese Witherspoon – “Johnny e June”

Melhor Performance em Comédia

Owen Wilson – “Os Penetras Bons de Bico”
Adam Sandler – “Golpe Baixo”
Steve Carell – “O Virgem de 40 Anos
Tyler Perry – “Madea's Family Reunion”
Vince Vaughn – “Os Penetras Bons de Bico”

Melhor Equipe

Steve Carell, Paul Rudd, Seth Rogen e Romany Malco – “O Virgem de 40Anos”´
Johnny Knoxville, Seann William Scott e Jessica Simpson – “Os Gatões”
Jessica Alba, Ioan Gruffudd, Chris Evans e Michael Chiklis – “O Quarteto Fantástico”
Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint – “Harry Potter e o Cálice de Fogo”
Vince Vaughn e Owen Wilson – “Os Penetras Bons de Bico”

Melhor Vilão

Cillian Murphy – “Batman Begins”
Hayden Christensen – “Guerra nas Estrelas: Episódio III – A Vingança dos Sith”
Ralph Fiennes – “Harry Potter e o Cálice de Fogo”
Tilda Swinton – “As Crônicas de Nárnia: o Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”
Tobin Bell – “Jogos Mortais 2”

Revelação

Andre 3000 – “Quatro Irmãos”
Islã Fisher – “Os Penetras Bons de Bico”
Nelly – “Golpe Baixo”
Jennifer Carpenter – “O Exorcismo de Emily Rose”
Romany Malco – “O Virgem de 40 Anos”
Taraji P. Henson – “Ritmo de um Sonho”

Melhor Herói

Christian Bale – “Batman Begins”
Jessica Alba – “O Quarteto Fantástico”
Daniel Radcliffe – “Harry Potter e o Cálice de Fogo”
Kate Beckinsale – “Underworld 2: Evolução”
Ewan McGregor – “Guerra nas Estrelas: Episódio III – A Vingança dos Sith”

Performance Mais Sexy

Beyoncé Knowles – “A Pantera Cor-de-Rosa”
Jessica Alba – “Sin City”
Jessica Simpson – “Os Gatões”
Ziyi Zhang – “Memórias de uma Gueixa”
Rob Schneider – “Gigolô Europeu por Acidente”

Melhor Luta

Kong X Aviões – “King Kong”
Stephen Chow X Axe Gang – “Kung-Fusão”
Angelina Jolie X Brad Pitt – “Sr. e Sra. Smith”
Ewan McGregor X Hayden Christensen – “Guerra nas Estrelas: Episódio III – A Vingança dos Sith”

Melhor Beijo

Jake Gyllenhaal e Heath Ledger – “O Segredo de Brokeback Mountain”
Taraji P. Henson e Terence Howard – “Ritmo de um Sonho”
Anna Faris e Chris Marquette – “Apenas Amigos”
Angelina Jolie X Brad Pitt – “Sr. e Sra. Smith”
Rosario Dawson e Clive Owen – “Sin City”

Melhor Atuação Assustada

Rachel Nichols – “Horror em Amityville”
Jennifer Carpenter – “O Exorcismo de Emily Rose”
Derek Richardson – “O Albergue”
Paris Hilton – “Casa de Cera”
Dakota Fanning – “Guerra dos Mundos”

Sunday, April 23, 2006

Com saudades dos amigos

No final de 1994, uma idéia aparentemente banal ganhou o horário nobre da NBC, uma das principais emissoras de TV americana: o seriado “Friends” mostrava a vida de seis amigos de 20 e poucos anos que viviam em Nova York. O que poderia ser mais um seriado mediano de humor transformou-se em um fenômeno de audiência e referência de séries de humor no mundo todo.
Portanto, foi muito sensato dos produtores decidir acabar a série quase no auge, depois de dez anos de sucesso e dos atores chegarem a cachês milionários ( em 2004, cada um ganhava um milhão de dólares por episódio ). Afinal, insistir em mais temporadas poderia levar “Friends” a um fracasso que obrigasse o seu fim e possivelmente acabasse com toda a repercussão em torno do programa.
A fórmula do sucesso parece simples. Roteiristas afiados, um elenco primoroso e muito bem escalado, participações especiais bem escolhidas e situações próximas do real, mas expondo o que a vida tem de mais engraçado. “Friends” não envelhece, é uma série para ver e rever em qualquer época.
Mas em busca de mais sucesso e de continuidade das cifras milionárias que o seriado movimentou, os executivos da NBC tentaram segurar aquele público fiel de alguma forma. Foi aí que os produtores sugeriram um spin off ( nome dado a um seriado que deriva de outro ) com o personagem Joey Tribbiani, interpretado pelo ótimo Matt Le Blanc. A idéia já deu certo outras vezes, mas ninguém pareceu entender o principal motivo do sucesso da série original.
Ao longo de dez anos, o público se envolveu com a história de seis amigos. Quem protagonizava “Friends” não era nenhum dos seis, mas sim a amizade que existia entre eles. E por isso, separar qualquer um dos personagens não poderia dar certo. Quebraria o que tanto encantou telespectadores. Perto do final, os personagens estavam mais caricatos, já que a característica mais marcante de cada um era exaltada ao máximo, para garantir que o público continuasse rindo e acompanhando.
Sendo transportado para outro programa, Joey perdeu boa parte das características que o marcaram e ficou perdido entre uma história já construída em outra produção e novas características que precisam ser controladas. Os coadjuvantes, apesar de bons atores, acabaram ficando extremamente caricatos, para compensar a apatia do personagem principal.
As piadas ficam repetitivas e ninguém consegue brilhar, nem mesmo o talentoso protagonista ou a engraçadíssima Jennifer Coolidge, que interpreta a empresária maníaca de Joey. No último episódio exibido, o público conheceu o pai de Joey. Para quem acompanhava “Friends”, era de se esperar um italiano burro, guloso e engraçado, que fosse uma versão mais velha de Joey. Mas eis que surgiu um americano gordo, rabugento e sem graça. Quando Joey fala alguma besteira, fica um vazio, a audiência acostumada a série antiga espera o comentário irônico de Chandler ( Matthew Perry ) a cumplicidade de Phoebe ( Lisa Kudrow ).
Tentando se distanciar da série que o originou, Joey perde suas características e seu público. A audiência vem despencando nos Estados Unidos e assim ele perde os fãs de “Friends” que o acompanharam e não conquista uma audiência própria. A opção é comprar os DVDs da série original e rever os episódios antológicos de um dos melhores enlatados americanos já produzidos.

Friday, April 14, 2006

DROPS: 14/04/2006

Nova seção do TeleCinese, o Drops trará eventualmente notícias rápidas sobre televisão e cinema.

MUDANDO O TOM

Diferentemente de quando deixou a Globo, o humorista Tom Cavalcante tem usado tons mais que amigáveis para referir-se à antiga emissora. Ele fez elogios rasgados a toda a equipe do “Sai de Baixo” e garantiu que sua paródia de Ana Maria Braga vai se chamar Ana Maria Bela e não Ana Maria Brega.


VEM AÍ

Apresentadora do GNT, Chris Nicklas não gostou do projeto que a diretora do canal lhe ofereceu. Vão voltar a conversar para definir o novo programa de Chris. Enquanto isso, ela faz novamente a cobertura do Fashion Rio.



ASSINO EMBAIXO

Um grupo de telespectadores da MTV e fãs da VJ Marina Person se mobilizou para enviar e-mails à produção do programa “Cine MTV”, pedindo que a VJ volte a comandar a atração. Em 2006, a MTV resolveu trocar Marina pelo recém-contratado Felipe Solari. Uma das alegações dos fãs é de que Marina é a única apresentadora do canal formada em cinema.

A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM

O produtor Frank Marshall garantiu que “Jurassic Park 4” sairá do papel. Segundo ele, o filme já tem um bom roteiro e Steven Spielberg pretende filmá-lo depois de “Indiana Jones 4”, que deve estrear nos cinemas no ano que vem.



POLÊMICA À VISTA

“X-Men 3” está cercado de mistérios, mas boatos garantem que o personagem Colossus (Daniel Cudmore) será bissexual. Ele ficaria dividido entre Vampira (Anna Paquin) e Wolverine (Hugh Jackman).



NA TELONA

O ator Kiefer Sutherland, protagonista da série “24 Horas”, agora é também produtor executivo do programa. Ele confirma que o seriado deverá virar filme, mas apenas em 2007. O contrato de Kiefer foi renovado por 3 anos. "24 Horas" é exibido no Brasil pela FOX.

As Nada Pedidas

Finalmente, a MTV Brasil parece ter percebido que estava perdendo a característica principal. Na nova programação, a música está presente na maioria dos programas e os clipes voltaram a ser exibidos na íntegra.
Mas se tem um programa que nunca perdeu a característica nem nunca deixou de ter os clipes completos, esse programa é o Disk MTV. Durante muito tempo o carro-chefe da emissora, o programa apresenta os dez vídeos mais votados pelo público do canal.
O formato é obrigatório em qualquer canal musical. O programa costumava ser o de maior audiência na MTV nacional, mas com o passar do tempo, provavelmente pela falta de inovação, foi se perdendo um pouco no meio da grade.
Quando a ex-VJ Sarah estreou no programa, em 2000, a direção conseguiu inovar. Aumentou a duração para uma hora e meia e incluiu novos quadros, como um que mostrada os mais votados em uma cidade ou região específica. Foi uma excelente forma de quebrar a rotina da parada de sucessos e tornar o Disk mais atrativo.
Mas a inovação não durou muito e o formato original voltou ao ar. A atração é tradicionalmente apresentado por moças certinhas, um pouco caretas, mas um tanto animadas ( Cuca Lazarotto, Sabrina Parlatore, Sarah Oliveira e Carla Lamarca ). A exceção foi a primeira titular, Astrid Fontenelle. Ela tornou o programa um sucesso, ao esbanjar descontração na forma de apresentar.
Vemos então em Astrid uma provável tentativa da MTV de retomar o que o Disk MTV era. Na programação atual, ficou bem óbvio que a inspiração vem dos primórdios da emissora, tentando se reaproximar do público com formatos que ela própria consagrou. Mas aí é onde está seu erro.
As gêmeas Keila e Kênia tentam quebrar os padrões trocando implicâncias, farpas, gritinhos e comentários um tanto dispensáveis. O fato de uma dupla apresentar o programa deveria dar mais dinâmica, mas tudo ali parece ensaiado e monótono. Fica evidente o esforço para se produzir um programa informal e descontraído, mas o resultado é um constrangimento de quem assiste.
A MTV está acertando na mão com a volta as origens, mas o programa que traduz o que é a Music Television merecia um investimento à altura.

Thursday, April 13, 2006

E sem precisar de prêmio...

Edifício Master (Brasil, 2002)
Dirigido por Eduardo Coutinho

Se no “Big Brother Brasil”, nem o prêmio de um milhão de reais e nem a projeção nacional conseguem deixar os participantes interessantes ou fazer com que a produção selecione um elenco com algum conteúdo, no documentário “Edifício Master”, dirigido por Eduardo Coutinho e lançado em 2002, os personagens nos levam a uma viagem por um prédio que abriga uma incrível diversidade e histórias impagáveis.
O lugar existe em Copacabana. Antigo reduto de travestis e prostituição, o edifício Master, hoje, é um prédio mais familiar, mas que por ser muito grande, pode ter qualquer tipo de morador. Em busca dos melhores personagens, Coutinho e sua equipe entrevistaram os moradores que estivessem dispostos a aparecer na produção.
O resultado é uma boa seleção, com pessoas interessantes de se ver e ouvir. Cada um com sua particularidade, muitas vezes nos surpreendendo com tamanha sinceridade com que contam suas vidas diante da câmera. O mais importante é que o filme nos apresenta esses personagens sem julgar ou sem discutir. Fica claro que o protagonista do documentário é o prédio onde todas essas figuras convivem.
Eduardo Coutinho não apresenta nenhum estudo sobre o edifício Master. Não tenta achar ou definir nada. O interessante está exatamente aí, na sinfonia desafinada composta pela mistura de depoimentos tão diversos. Na montagem proposta pelo diretor, porém, os depoimentos menos interessantes foram deixados para o final, o que faz com que o filme perca um pouco do ritmo a medida em que vai acabando. Isso não compromete o resultado final, ainda mais porque no DVD é possível assistir aos depoimentos de forma aleatória, mas a montagem oficial deveria ter tido o cuidado de intercalar os destaques.
Falta também ao filme personagens mais polêmicos, o que pode ter sido opção do diretor. Para que não parecesse uma tentativa forçada de criar repercussão, personagens que criassem esse efeito provavelmente foram eliminados na seleção. Isso fica evidente ao perceber o modo como situações que poderiam ser chamariz para desviar a atenção do espectador são mostradas com discrição e leveza.
Se a cúpula da TV Globo fosse esperta, já teria cadastrado os moradores do edifício para usar na seleção do Big Brother.

Saturday, April 08, 2006

Brilho Eterno de um Sonho

Código 46 (Code 46; EUA/2003)
Dirigido por Michael Winterbottom

“Código 46”, exibido pelo Telecine Premium nesse Sábado, poderia ser aquele filme-pipoca de ficção científica sobre um futuro com clones e leis de restrição que contrariam qualquer luta pela liberdade vivenciada na nossa contemporaneidade. Mas não é.
O enredo, apesar de falar sobre uma paixão entre um investigador e sua principal suspeita, traz um elemento recorrente de produções recentes, mas que aqui aparece camuflado entre outros elementos: a memória. No filme, os dois protagonistas têm as memórias apagadas parcialmente em momentos distintos. Faz parte dos métodos utilizados pelo governo para controlar a população.
“Odisséia”, a clássica aventura de Ulisses pelos mares, demonstra que na Antigüidade, a memória era um item de grande valor. Era com ela que as pessoas contavam as histórias fascinantes que as permitiam por exemplo, se hospedar na maioria das novas terras que visitavam. Em tempos em que não havia modo de registro como gravações, as lembranças eram uma riqueza inigualável.
Em filmes como “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” (de Michel Doungry, 2004) e “Vanilla Sky” (de Cameron Crowe, 2001), as pessoas pagam para apagarem parcialmente suas memórias. Se vêem no direito de influir no cérebro a fim de apagar aquilo que deseja. E ao que conduz o roteiro de ambos demonstra o medo que existe das conseqüências que isso poderia causar. Confusões mentais suficientes para levar a transtornos sem fim.
O futuro em “Código 46”, determina, assim como em “A Fortaleza” (de Stuart Gordon, 1993), que os nascimentos serão controlados. Em um mundo onde muitos nascimentos são resultado de clonagem e fertilizações in vitro, o que remete ao livro “Admirável Mundo Novo” (de Aldous Huxley, 1933), a população foi proibida de se relacionar com qualquer um que tenho pelo menos 25% de genes compatíveis e a violação disso significa infringir o tal código 46.
Essa é a representação da idéia de futuro como um lugar frio, sem relações de afeto, com total controle do governo, que através das novas tecnologias, mantém a ordem e exclui quem não se encaixa no padrão determinado de perfeição. É o medo de que as coisas tomem tamanha dimensão que os grandes milionários se unam para dominar nossas mentes e ações.
O filme de Michael Winterbottom, com Tim Robbins como protagonista, acaba com a esperança de se livrar da “matrix”, de viver livre, feliz e pleno. Conduz tudo friamente, e a relação sexual calorosa é explicada por uma interferência da ciência no corpo da protagonista. A estética é de um sonho constante, presente também no texto, através da narração da personagem de Samantha Morton, que faz referências a um sonho constante que está inteiramente relacionado aos acontecimentos.
O filme não se explica bem, não se desconstrói. Conduz a uma narrativa embaçada, confusa, produzindo no cérebro efeitos semelhantes ao que uma intervenção no subconsciente poderia causar.

Thursday, March 30, 2006

Bella Persona

Quem conhece a VJ Marina Person das telas da MTV, talvez não saiba que ela é uma cineasta. Além do curta-metragem “Almoço Executivo”, Marina dirigiu o documentário “Person”, exibido em grande estilo no cinema Odeon BR, na Cinelândia, Rio de Janeiro. Foi a estréia nacional da versão para cinema do documentário, dentro da mostra “É Tudo Verdade”. A TV Cultura, parceira do projeto, já havia exibido uma versão diferente, compacta.
Trata-se de um filme sobre Luis Sérgio Person, pai de Marina e cineasta consagrado no Brasil. L.S. Person dirigiu, entre outros, os elogiados “São Paulo S/A” e “O Caso dos Irmãos Naves”.
O título da produção traduz um pouco o que pode ser encontrado nela. Marina não trata apenas do cineasta Person, mas sim do pai visto pelos olhos e lembranças de suas filhas (Marina é irmã da apresentadora Domingas Person) e de sua viúva. Alternam-se momentos em que as três mulheres conversam sobre o homem, o pai e o marido que ele foi, e depoimentos de artistas e diretores que trabalharam e admiram Luis Sérgio.
Marina faz uma busca pelas origens e a carreira de Person, isentando-se da condição de filha, mas fazendo-se presente, já que seria impossível um distanciamento de um personagem tão presente em sua vida.
O documentário levou anos para ser concluído, passou por várias fases da vida da diretora, o que reforça a admiração que um profissional com uma vida tão curta deixou por onde passou. A entrevista concedida para Joana Fomm na TV Cultura é um dos pontos altos do filme, o momento onde captamos exatamente quem e como ele era.
As personalidades que passam pela tela – Ney Latorraca, Jorge Ben Jor, Eva Wilma, entre outros – também não se apresentam como apelação para ganhar credibilidade. Estão lá como fãs, amigos e colegas de trabalho. E fica claro que cada um conhecia um pedaço diferente da figura central, o que foi brilhantemente construído por Marina, em uma narrativa inteligente e despreocupada.
Um belo presente de filha para pai, de aprendiz para mestre, de cineasta para cineasta.

Informação: o documentário está previsto para ser lançado nos cinemas em 2006, quando L.S. Person completaria 70 anos

Sunday, March 12, 2006

Saia... chata!

Quando estreou no GNT, o “Saia Justa” foi motivo de notas entusiasmadas, elogios e repercussão. Como dizia um comercial do programa, não adianta apenas colocar quatro mulheres quaisquer juntas para que o debate seja interessante.
Apesar de não ter acompanhado o programa em sua primeira versão, pude constatar que se tratava de uma atração singular. A jornalista Mônica Waldvogel foi a grande revelação, mostrando uma personalidade forte e inteligente que os telejornais globais e mesmo o talk show “Dois a Um” escondiam. A atriz Marisa Orth, a cantora Rita Lee (que mais tarde viria a deixar a atração para ter seu próprio programa e fiou substituída por Marina Lima) e a escritora Fernanda Young ajudavam a compor o quarteto e dispensam apresentação.
Na mudança de temporada, a direção achou que estava na hora de mudanças bruscas para não perder o fôlego. Foi aí que a atriz Betty Lago e a filósofa Márcia Tiburi foram chamadas. E Luana Piovani, que procurava um emprego depois de deixar a Globo e fracassar na MTV, foi bater à porta do canal e acabou caindo de pára-quedas no sofá que as apresentadoras dividem.
O que se vê agora é um programa tão linear que cansa. Os temas são interessantes, a direção não erra na mão e o formato continua atual. O problema é que debates só tornam-se bons para quem está fora dele se os debatedores fizerem por onde. E aí está o problema da temporada 2005.
Mesmo depois de um ano, Márcia, Luana e Betty não conseguem criar uma química que justifique a escolha do telespectador. Elas são sempre iguais, com os mesmos clichês que o programa deveria combater. Betty ainda garante bons momentos e vez ou outra se mostra espontânea. Márcia é chata, sem nada a acrescentar, apenas a contestar com uma apatia impressionante. Luana não sabe de nada, não assiste nada, não conhece nada e tudo o que faz é contar causos de amigos playboys, amigas fúteis e divulgar sua peça, seu corte de cabelo, seus conhecidos...
Mônica Waldvogel acaba brilhando mais do que todas, parecendo ser uma entidade superior àquelas que a cercam. Ela está sempre afiada, com conhecimento amplo do que fala e não titubeia diante de nenhum assunto. Conduz tudo muito bem e segura a onda pelas quatro. Mônica ainda faz valer a pena assistir, mas é crescente o interesse pelo próximo absurdo de Luana ou a próxima reclamação de Márcia.
A edição especial do Dia Internacional da Mulher, ao vivo e com platéia, não mudou muito do habitual e a agilidade não foi recuperada. É preciso selecionar pelo menos duas novas companheiras que consigam dividir o brilhantismo de Mônica.

Desejo atendido?

Em recente entrevista, a jornalista Mônica Waldvogel contou que o contrato com o canal foi renovado. Mesmo apresentando o "Jornal das Dez" na Globo News, Mônica continuará à frente do "Saia Justa", mas disse que não sabe se as companheiras continuarão em Abril.
Fontes ligadas ao GNT garantem que é unanimidade no canal que Luana Piovani não se encaixa e que ela está fora da nova programação. Coincidência ou não, a atriz já apresentou um projeto de programa para a Rede Globo.

Convite

Convido os leitores do blog a opinar sobre mulheres que poderiam dividir o sofá. Eu convidaria a apresentadora Tatiana Mancini, ex-MTV, a atriz Patrycia Travassos e a autora e atriz Maitê Proença.
Façam suas apostas e dêem suas sugestões!

Wednesday, March 08, 2006

Surpreendente, pero no mucho

Pelo segundo ano consecutivo, o Oscar contrariou as expectativas gerais e o prêmio de Melhor Filme não foi para aquele que era considerado o “favorito”, muitas vezes baseado não só na repercussão da produção, mas no resultado de outras premiações, como o Globo de Ouro.
É verdade que o resto da cerimônia desse ano foi regado a muita previsibilidade, mas isso aumentou ainda mais a surpresa do final estarrecedor. Em 2005, “O Aviador” tinha tudo para ser um arrasa-quarteirão no Oscar e dar finalmente o prêmio a Martin Scorsese, mas o azarão “Menina de Ouro”, de Clint Eastwood, acabou levando a melhor.
Em 2006, o espanto foi ainda maior. Todos os jornais, cinéfilos e até os pouco entendidos davam como certa a vitória de “Brokeback Mountain”, o drama sobre o romance de dois caubóis. O diretor do filme, Ang Lee, arrebatou o prêmio de “Melhor Direção”, o que aumentou a certeza de que a estatueta mais importante da noite seguiria nessa direção. O que aconteceu na “hora H”, foi Jack Nickolson anunciando alto e bom som: “...and the Oscar goes to: CRASH!”.
Foi realmente um crash para os espectadores. Nem a equipe do filme disfarçava o susto da vitória. Foi importante um prêmio para um enredo de racismo e preconceito étnico, mas ele acabou “roubando” a vez da consagração do amor homossexual visto com delicadeza e aceitação. Existem diversas teorias sobre o resultado, desde um favorecimento a um diretor que é praticante de uma nova religião cheia de adeptos em Hollywood, até a uma identificação dos votantes pela história se passar em Los Angeles.
Mas provavelmente a verdade é mais óbvia: a conversadora Academia não está pronta para glorificar um relacionamento entre dois representantes do maior símbolo da macheza hollywoodiana, tão famoso num filmes de faroeste. Preferiram reconhecer que “Brokeback Mountain” tinha a melhor trilha sonora, o melhor roteiro adaptado (quase original, pois foi criado a partir de um conto de 12 páginas), o melhor diretor... mas não é o melhor filme.
O resto da cerimônia seguiu bem. O novo apresentador Jon Stewart fez bonito e imprimiu sinceridade em piadas irônicas sobre o próprio evento e seus indicados. Os outros “favoritos” venceram como era esperado e o Oscar durou menos que o previsto, com as chatices habituais, mas abrindo mais espaço para a descontração e a agilidade.
Só nos resta esperar pelo próximo ano e tentar adivinhar se os membros votantes da Academia vão continuar surpreendendo o mundo. Uma coisa, porém, é certa: o suspense no final vai ser inevitável.

Em tempo: o que faz a única emissora aberta que possui os direitos de transmissão da festa, a Rede Globo, cortar as primeiras – e importantes – premiações para dar espaço ao Big Brother Brasil? Se é para ser assim, que não comprasse...

Friday, February 24, 2006

Força da Natureza

O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain; EUA/2005)
Quando um filme toca forte um espectador, creio que fica mais difícil de analisá-lo. E confesso que isso atrasou meu texto sobre “O Segredo de Brokeback Mountain”. Após assistir ao filme 3 vezes, creio que é mais interessante analisar os sentimentos e os personagens do que o próprio filme, mas acho que isso não cabe a mim.

Ang Lee se livra dos preconceitos ao filmar uma incrível história de amor entre dois homens de uma forma rara. O mais impressionante da obra talvez seja a sutileza com que ele a conduz. Fica claro que o importante ali é o amor, não o sexo de seus protagonistas ou o desejo sexual de um pelo outro.

Tudo é bastante realista, mas de certo modo caricato, como a própria realidade. Os caubóis apaixonados são, à primeira vista, brutos e durões em excesso. Mas ao olhar de perto, percebe-se pequenos gestos e olhares que demonstram o desejo de Jack Twist por homens e Ennis del Mar como uma pessoa carente, que tem na sua solidão e dureza uma “casca” para seu interior frágil. A “casca” fala mais alto ao criar o medo e a culpa que ele sente daquela relação proibida.

O diretor exalta ainda a masculinidade de ambos e as desastradas vidas que eles levam longe da montanha onde são livres para se amar. As esposas Alma e Lureen são personagens incômodas, que nos deixam nervosos quanto entram em cena.

Assistindo em salas lotadas nos cinemas cariocas, percebe-se reações curiosas no decorrer do filme. O início da relação e seus conflitos – como Alma ou o chefe deles, Aguirre, descobrindo o romance – são acompanhados de mal-educadas gargalhadas. Os risos persistem durante um tempo, mas cessam quando entramos em um estágio de deslumbramento e dúvida: será que um amor proibido pela sociedade da época e cercado de aflição e dificuldade vai resistir ao tempo?

O objetivo de “O Segredo de Brokeback Mountain” pode ser conseguido facilmente por qualquer espectador que não seja um reacionário preconceituoso: esquece-se que são dois homens e passa-se a torcer para que esse amor seja infinito. Dá-se, então, assim como a mãe do caubói Jack, a benção a uma das coisas mais belas e importantes da vida.

Tuesday, January 24, 2006

Pessoas são pessoas


Crash - No Limite (Crash; EUA/2005)

Desde a primeira cena, "Crash" revela sobre o que trata o enredo: preconceito. Tanto racial quanto étnico. Os personagens vão mostram-se racistas mesmo fazendo parte de alguma minoria. E é ainda no início do filme que ele surpreende os espectadores. Pensava-se que a intenção do filme era derrubar os estereótipos, mas aí está o engano.

O filme trata o tema de uma forma aparentemente superficial. Não explora a origem do preconceito, nem o porquê de sua manifestação. Ele faz uma abordagem um pouco crua, o que o torna ainda mais interessante. "Crash" mostra como pessoas estereotipadas caem na mesma armadilha e como isso vai se propagando.

Brincando com os acidentes de trânsito, que dão nome ao filme e servem apenas para conectar os personagens, o filme derruba o espectador cena a cena, transformando heróis em miseráveis e miseráveis em heróis, mostrando que no fim, são apenas pessoas. Viver em sociedade em um mundo como o de hoje, é estar sujeito a fazer parte de um grupo social, racial e étnico pré-determinado, e os erros e injustiças que cometem conosco acabam sendo repetidas por nós mesmos com outros. É um tapa na cara de todos que se sentem hostilizados por pertencer a uma minoria. E quando começamos a julgar um personagem, o filme nos dá outro tapa, mostrando que o ser humano tem muitas facetas.

E a surpresa a parte fica por conta da escalação do elenco, que assim como a intenção do filme de despir os estereótipos dos personagens, parece querer despir os estereótipos dos atores. Sandra Bullock vive uma dondoca fútil e preconceituosa, Brendan Fraser é um político mau-caráter e sério, Matt Dillon é um sofredor conflituoso... não fosse pelo final um pouco óbvio e um tanto piegas, seria um exemplo a ser dado ao lado de "Closer": uma realidade crua, mostrando as máscaras que criamos para nós mesmos.

Friday, January 20, 2006

Bom até que ponto?

Vendo a Record tomar um espaço cada vez maior na TV e ameaçando a hegemonia da Globo ao encostar no ibope de "Bang Bang" e do "Jornal Nacional" com a novela "Prova de Amor", fica a dúvida: até que ponto isso é bom?
A hegemonia de uma emissora de TV em cima da transmissão aberta em um país nunca é boa. Os telespectadores ficam condicionados a assistir ao canal e assim cria-se uma rotina que impede a originalidade e a ousadia na criação de programas.
O problema é essa hegemonia ser quebrada da maneira como está sendo. Primeiro porque a Rede Record não faz distinção entre igreja e entretenimento. "Permitir" que uma emissora que prega uma religião em seus intervalos e programas fique tão popular, pode significar o crescimento da Igreja Universal em uma época em que precisamos cada vez mais que as religiões parem de influenciar em outros setores da sociedade.
Mas a questão não é nem essa. A Record ganha força fazendo exatamente o que a Globo faz, tirando profissionais da emissora e portanto importando o "padrão globo de qualidade". De que adianta dividir os telespectadores com uma novela com trama batida e atores bonitos e conhecidos? Ou reformular o jornalismo contratando profissionais da Globo e demitindo o âncora opinativo que imprimia um pouco de ousadia e opinião, coisa rara nos telejornais?
Portanto, não adianta quebrar a hegemonia de uma emissora de tv se for repetir o mesmo estilo e padrão da emissora líder e ainda por cima enfiando religião no meio. A TV brasileira carece de ousadia, programas mais educativos e ao mesmo tempo divertidos, que acrescentem algum tipo de conteúdo útil às cabeças das pessoas.
Enquanto a audiência se dividir entre produtos iguais, não faz diferença uma o ibope ser monopolizado por uma ou por várias emissoras.

Friday, January 06, 2006

Na mesma

Não é novidade que emissoras de TV lançem novelas a fim de aproveitar o filão explorado pela Rede Globo, que movimenta tanto dinheiro e alcança altos índides de audiência.
Em 1990, a extinta TV Manchete lançou “Pantanal”, novela de Benedito Ruy Barbosa. Ela tinha a até então desconhecida Cristiana Oliveira como protagonista e o diretor foi Jayme Monjardim, um dos mais cobiçados da Globo atualmente. O resultado foram índices altíssimos de audiência, o que levou ao fim do humorístico global “TV Pirata”, exibido no mesmo horário, e levou o “Jornal da Globo” a amargurar o segundo lugar na audiência durantes meses.
Depois dela, algumas novelas de outras emissoras conseguiram um sucesso preocupante para a Globo, mas que não chegou nem perto do fênomeno que foi Pantanal. Prova disso é que os direitos da novela foram vendidos para a emissora e vai ganhar nova versão mais de 15 anos depois da exibição.
O motivo de tanto sucesso foi a inovação de usar cenas externas, belos cenários e uma trama diferente de tudo que já havia sido visto. O enredo contava a saga de três gerações de uma família de fazendeiros, mas tinha direito a mulher virando onça.
Depois de anos sem ter sua hegemonia ameaçada, eis que novas investidas voltam a preocupar a TV Globo. O sucesso de “Essas Mulheres”, na TV Record, deu a força necessária para o investimento em atores consagrados da concorrente, colocando um elenco de peso à frente de “Prova de Amor”. Apesar de não ter a qualidade técnica da Globo, a novela ganhou força com o fracasso de uma trama ousada no mesmo horário, “Bang Bang”. Provavelmente um indício de que o público não procura mais ousadia e diversificação. Os telespectadores de hoje, ao contário dos de quinze anos atrás, querem a mesma fórmula de antes com alguns novos elementos que disfarcem.
“Que Rei Sou Eu?”, trama global exibida às 19h em 1989, tinha personagens com nomes franceses e diversas citações à Revolução Francesa. Foi um sucesso. Portanto, os nomes americanos e o estilo de faroeste presentes em “Bang Bang” não são desculpa para o fracasso da trama. Nem a inexperiência de Fernanda Lima, afinal, Cristiana Oliveira também era desconhecida quando se tornou a estrela que protagonizou a novela da Manchete.
Novelas de época com tramas de escravos e imigrantes ou novelas atuais com separações de bebês e vilões maquiavélicos são o grande atrativo do público. Inovações sutis como uma trama sobre reencarnação ainda conseguem alavancar uma novela, mas criar outro ambiente radicalmente diferente do usual se tornou arriscado.
Enquanto espera-se uma evolução da sociedade que obrigue mudanças e inovações, o que realmente parece estar acontecendo é um crescente conservadorismo, um sentimento de que não querem mudanças e novidades, mas uma rotina televisiva que não se afaste do que buscam hoje em dia: o triunfo do bem sobre o mal com um final feliz e romântico.