Sunday, October 01, 2006

Para chegar ao paraíso


Para filmar “O Céu de Suely”, o diretor Karim Aïnouz levou os atores para uma pequena cidade do Ceará onde o filme se passa, deu aos personagens os nomes de seus intérpretes, confiscou as roupas do elenco ( deixando apenas os figurinos ) e os obrigou a passar dois meses morando no lugar onde a trama se desenvolve.
O resultado foi um realismo incrível que aliado a uma boa história contada de modo competente, resulta em um belíssimo filme. Nele, a jovem Hermila deixa São Paulo e volta para sua pobre cidade-natal com um filho a tiracolo, esperando pelo marido que nunca volta. Desiludida, ela logo percebe que precisa deixar o lugar novamente e para conseguir dinheiro, rifa o próprio corpo por uma noite.
No lugar de um filme pesado, o diretor apresenta tudo de uma forma suave e em certos momentos quase romântica, mas ainda assim crua. Faz um jogo de esconder e mostrar que quebra um pouco a narrativa, dando a possibilidade de a imaginação do espectador também trabalhar.
No decorrer do filme, os personagens vão tomando forma e a história envolve de maneira que só um elenco de tirar o fôlego consegue com tanta perfeição. A realidade mostrada na tela chega a ser surreal para boa parte do público, mas é encarada com tanta naturalidade que torna-se compreensível.
No meio de tanta qualidade, a fotografia consegue se destacar ainda mais, fazendo jus ao seu realizador, Walter Carvalho. Não só os atores, mas a desconhecida e castigada paisagem nordestina surge de uma forma a encher os olhos.
Nas palavras do diretor, “O Céu de Suely” é um filme sobre a sutiliza da alma humana e a conclusão a que se pode chegar é exatamente essa.

1 comment:

Anonymous said...

Eu acho que Karim Ainouz não fez um filme tão forte quanto "Madame Satã", mas, ainda assim, não ficou devendo com o "O Céu de Suely", um filme muito simples. bonito e poético. E o realismo alcançado, como você falou, é um dos grandes méritos do filme. Um abraço!