Saturday, May 27, 2006

TV aberta no Brasil

A TV digital chega em breve ao Brasil e a discussão sobre o fato é muita. Boatos e especulações estão por toda parte e não sabemos se estamos sendo manipulados ou realmente está havendo uma grande confusão ou conflito de interesses. A escolha do sistema que será adotado no Brasil parece uma grande novela, cujo final está sendo adiado cada vez mais pelo governo.
É quase certo que o padrão japonês será o escolhido, já que as emissoras de TV aberta estão se mobilizando em uma campanha em prol dele. Apesar de ser o mais moderno e provavelmente mais adequado, o fato que justifica isso é que com o japonês, não será permitida a entrada de novos canais gratuitos, o que arruína, por exemplo, os planos das empresas de telecomunicação de integrarem esse lucrativo filão de espectadores. O padrão permite uma maior qualidade de programação ou uma divisão em diferentes programações em um mesmo canal. As emissoras vão optar pela maior qualidade, já que arcar com mais de uma programação simultânea não seria de interesse delas. E assim a banda de canais não pode ser estendida.
Em tempos de TV por assinatura, muita gente não sabe quais são os canais da TV aberta, transmitidos para qualquer casa que possua uma antena sem que o dono do aparelho de televisão precise pagar para assistir. Existem dois sistemas de antena, o VHF e o UHF. O segundo traz mais canais, mas não está disponível em todos os lugares. O primeiro é o sistema que pode ser, teoricamente, sintonizado em qualquer loca. Fiz um panorama das emissoras de TV presentes no Brasil atualmente:

TVE Brasil ( Canal 2 )
A TV estatal conta com a maior qualidade de conteúdo de programação, trazendo atrações educativas e culturais. Existe um investimento em bons programas infantis e muitos programas de entrevistas e debates. Sem fazer propaganda do governo, conta atualmente com um público formado por intelectuais, entre estudantes e professoras em uma maioria.

Globo ( Canal 4 )
Enquanto a TV Tupi, primeira emissora brasileira de televisão, entrava em decadência, a TV Globo investia em profissionais e conquistava o público. O lançamento foi polêmico, já que o dono, o empresário Roberto Marinho, utilizou recursos da empresa estrangeira Time, proibido pela legislação da época. Hoje, a Globo tem um poder absoluto e hegemonia incontestável, atende a todas as classes e possui a melhor qualidade técnica. A quinta maior emissora do mundo, porém, não é unânime: freqüentemente é acusada de manipulação. Já ajudou a eleger e derrubar presidentes e já foi tema de um documentário da BBC com várias acusações.

Bandeirantes ( Canal 5 )
A Band já foi “o canal dos esportes”, já teve novelas e já competiu pelo primeiro lugar de audiência. Hoje, não entra na briga e sobrevive com um bom público interessado nos esportes que transmite, além de um jornalismo competente e programas de variedades, alguns de fofocas e anúncios e outros interessantes com boas entrevistas. Ganha destaque em eventos como o carnaval, mas não é uma grande ameaça a Globo, com quem mantém uma boa relação. Possui dois canais segmentados, o "Band News" e o "Band Sports".

Rede TV! ( Canal 6 )
Mais nova de todas as emissoras, entrou no lugar da TV Manchete, que era controlada pela família Bloch e afundou em dívidas após um desastrado investimento em tecnologia. Começou bem, com seriados antigos, programas interessantes e a promessa de crescimento. Com o tempo, desandou no popularesco, sendo invadida por programas de fofocas e baixarias, do mais baixo nível.

Record ( Canal 7 )
Controlada pela Igreja Universal, a emissora com maior conteúdo religioso na programação nunca freqüentou a primeira posição na preferência do público, até o ano passado. Com um investimento pesado em tecnologia e em profissionais que tirou da Globo, a emissora copiou o padrão da líder de audiência e conseguiu aparecer. Demitiu o jornalista Boris Casoy, que imprimia opiniões fortes ao principal telejornal, e trocou por um casal de âncoras e um jornalismo mecânico ao estilo do “Jornal Nacional”, principal produto informativo da Globo. Além disso, a novela “Prova de Amor” conseguiu vencer a audiência da concorrente global e ameaçou até a audiência do JN, utilizando trama e atores conhecidos há muito pelos telespectadores.

CNT ( Canal 9 )
Lanterninha da audiência televisiva, o CNT vende espaços na programação e apresenta programas destinados ao público mais ignorante. Com péssima qualidade técnica, falta de sincronia entre áudio e vídeo e programas com baixaria e péssimo conteúdo. Pouca coisa salva na emissora, mas às vezes surge algum destaque que é logo capturado pelas emissoras maiores.

SBT ( Canal 11 )
Criado há 25 anos, o canal tem como dono Silvio Santos, ex-apresentador da Globo e um dos maiores comunicadores do país. Dedicado a uma faixa da população menos instruída e de classes sociais de média para baixo, com algumas exceções, o canal se perde um pouco ao tentar ter uma qualidade grande filmes e jornalismo misturado a novelas mexicanas e programas de auditório barato. Durante anos em segundo lugar na audiência, vem perdendo terreno para a Record e obrigado os diretores a realizarem mudanças bruscas e inesperadas na grade.

Tuesday, May 23, 2006

Segredo nosso de cada dia

Caché (França, 2006)
Dirigido por Michael Haneke

Poderia ser um enredo de thriller americano: um casal comum e bem-sucedido começa a receber fitas de vídeo que monitoram a entrada e saída da casa e desenhos de um boneco jorrando sangue. Poderia, mas não é.
Em “Caché”, o diretor austríaco Michael Haneke se mantém fiel ao estilo de seu último trabalho lançado no Brasil, “A Professora de Piano”, de 2001: muitos planos parados e uma subjetividade exacerbada que esconde do espectador mais desavisado o verdadeiro tema do filme.
O enredo nos conduz a uma história de desestruturação familiar, onde segredos banais tomam dimensões exageradas e revelam aspectos da vida cotidiana que os personagens inconscientemente escondiam. A vida do casal e do filho de 12 anos passa a ser manipulada pela pessoa que envia as fitas e assim desenterra fantasmas do passado. “Caché” não entra no rótulo de filme de mistério, mas pode ser definido como um filme misterioso. Não pela condução do roteiro, mas pela multiplicidade de interpretações e dúvidas que é capaz de produzir.
Beirando o pânico, a dona-de-casa vivida por Juliette Binoche questiona os segredos que o marido interpretado por Daniel Auteuil não acha necessário expor. Sem escancarar seu foco, o longa é conduzido em uma narrativa quase entediante que transpõe exatamente o ritmo em que vivem os personagens. A sutiliza e o lugar-comum ajudam a compor e entender a idéia de que não importa quem ou por que as fitas estavam sendo enviadas, mas o quão vulneráveis são as pessoas.
Em “A Professora de Piano”, a personagem de Isabelle Huppert esconde a perversão sexual atrás de uma postura rígida e fria. Em “Caché”, o protagonista George esconde outro tipo de perversão, a de um ato egoísta quando criança, atrás de uma apatia melancólica.
Mais do que um drama sobre a queda de uma família normal, o filme é um conto atual sobre o poder das imagens, da falta de privacidade e da tentativa das pessoas de seguirem com suas normas e apatia pré-estabelecidas.
A produção francesa brilha e brinca com o título (“caché” significa “escondido”) e com o espectador, revelando-se aos poucos e provocando sensações próximas da realidade cotidiana de cada um.

Monday, May 08, 2006

Futuro que nos aguarda

Estar na capa do caderno de cultura do principal jornal do Rio não é para qualquer um. A repercussão é imediata e pode abrir portas, dependendo do motivo da capa. Eduardo Valente sentiu esse gostinho na terça-feira, dia 02 de Maio. O motivo é que é o terceiro ano consecutivo em que o cineasta representa o Brasil com um curta-metragem no Festival de Cannes.

Formado em cinema pela UFF, Eduardo Valente era crítico de cinema no site "Contracampo" e venceu a competição de curta universitário com "O Sol Alaranjado". A vitória surpreendeu o próprio diretor, já que concorria com uma super-produção de uma universidade particular de Berlim. O presidente do júri do festival, o diretor Martin Scorsese (de "Taxi Driver") disse que escolheu o curta brasileiro porque o lembrou de quando era quando fazia seus primeiros filmes.

"O Sol Alaranjado" conta a relação de uma filha e de um pai doente. Já "Castanho", segundo curta dirigido por Valente e que esteve no Festival em 2005, é uma comédia sobre a beleza e a vaidade feminina. E o mais recente, o policial "O Monstro", que concorrerá no festival desse ano, conta um episódio trágico na vida de um pescador. O curta faz uma crítica à mídia televisiva.

As três produções, de qualidade excepcional, foram exibidas na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, junto com dois vídeo-clipes da banda Los Hermanos, que está presente na trilha sonora dos três curtas do cineasta.

Em entrevista concedida a mim para a TV PUC Rio, Valente disse que o papel dos novos cineastas é mostrar uma visão do mundo diferente das que vemos atualmente. Ele explicou que a maior vantagem do prêmio em Cannes foi a visibilidade que os curtas tiveram para o público em geral. E finalizou contando que acredita que o mercado de cinema brasileiro está melhor e que mesmo com alguns problemas a resolver, pode estar caminhando para o que seria o ideal.