Thursday, December 29, 2005

MTV... de quê mesmo?

Ao chegar na Espanha, fui assistar à MTV local. Além de conhecer os costumes do país, o objetivo era tecer uma comparação com a MTV Brasil. Há pouco tempo, a filial brasileira foi escolhida como a MTV com a maior qualidade de programação do mundo. Coloquei então na MTV Espanha esperando algo aquém da que posso ver todo dia, na minha casa.
A primeira coisa que assisti foi... um clipe. Um clipe (musical na MTV. Achei interessante e deixei sintonizado durante todo o dia. Para minha surpresa, foram exibidos clipes o dia todo. Como assim, clipes o dia todo? Que absurdo. Uma emissora de tv com clipes o dia todo?? Que idéia... mas espera. É MTV... de quê mesmo? Ah sim, Music Television. Televisão musical.
Pensemos então no efeito que aconteceu aqui. Com o passar dos anos, a MTV Brasil foi incorporando aos seus programas musicais, mais programas no estilo do horário nobre, que começaram a fazer sucesso. Tratavam-se de programas recheados de “atitude”, já que o slogan durante certo tempo foi “música + atitude”.
E com esse sucesso e a mídia noticiando cada vez mais – o beijo polêmico do “Fica Comigo” gay, a entrevista de José Serra no “Tome Conta do Brasil”, e por aí vai – a tendência foi deslocar seus VJs, agora estrelas da televisão brasileira, para programas mais sérios e mais... não-musicais.
Quem conhece as filiais pelo mundo, ainda que as nunca tenha visto, sabe como é a grande matriz, a MTV Americana. Ela possui apenas um programa de clipes. Se afastou completamente do objetivo inicial, mas explica-se: os norte-americanos podem contar com a MTV2, especializada em rock e música alternativa, com a MTV Only Videos, exibindo clipes o dia todo, e a MTV Universitária, feita por estudantes universitários do país todo.
E chega-se a conclusão que no âmbito de se tornar uma emissora de respeito, criada para o segmento jovem, dizendo-se inovadora, nossa “Eme Te Vê” (como diria Caetano Veloso) transformou sua faixa musical em alguns programas interativos (sendo que o principal corta os clipes antes que acabem ou depois de começar) e uma faixa vespertina sem apresentador, sem notícia ou sem qualquer tipo de seleção, destinada a exibir os vídeos mais recentes e que provavelmente cansaremos de assistir nos próximos três meses.
Adeus programas de clássicos, de hits, de gêneros separados. Na ânsia de se manter o título de melhor qualidade de programação, os diretores da filial brasileira copiam programas americanos imprimindo uma leve característica brasileira para chamar de adaptação e assim perdem a identidade. A MTV Brasil torna-se chata e desinteressante e assim as novas gerações que buscam a emissora atrás de programas que nada tem a ver com música, provavelmente não vão nem ter o conhecimento de que ela um dia foi a Music Television.

Felipe Dylon é recebido por Cicarelli em um programa de... namoro