Tuesday, January 24, 2006

Pessoas são pessoas


Crash - No Limite (Crash; EUA/2005)

Desde a primeira cena, "Crash" revela sobre o que trata o enredo: preconceito. Tanto racial quanto étnico. Os personagens vão mostram-se racistas mesmo fazendo parte de alguma minoria. E é ainda no início do filme que ele surpreende os espectadores. Pensava-se que a intenção do filme era derrubar os estereótipos, mas aí está o engano.

O filme trata o tema de uma forma aparentemente superficial. Não explora a origem do preconceito, nem o porquê de sua manifestação. Ele faz uma abordagem um pouco crua, o que o torna ainda mais interessante. "Crash" mostra como pessoas estereotipadas caem na mesma armadilha e como isso vai se propagando.

Brincando com os acidentes de trânsito, que dão nome ao filme e servem apenas para conectar os personagens, o filme derruba o espectador cena a cena, transformando heróis em miseráveis e miseráveis em heróis, mostrando que no fim, são apenas pessoas. Viver em sociedade em um mundo como o de hoje, é estar sujeito a fazer parte de um grupo social, racial e étnico pré-determinado, e os erros e injustiças que cometem conosco acabam sendo repetidas por nós mesmos com outros. É um tapa na cara de todos que se sentem hostilizados por pertencer a uma minoria. E quando começamos a julgar um personagem, o filme nos dá outro tapa, mostrando que o ser humano tem muitas facetas.

E a surpresa a parte fica por conta da escalação do elenco, que assim como a intenção do filme de despir os estereótipos dos personagens, parece querer despir os estereótipos dos atores. Sandra Bullock vive uma dondoca fútil e preconceituosa, Brendan Fraser é um político mau-caráter e sério, Matt Dillon é um sofredor conflituoso... não fosse pelo final um pouco óbvio e um tanto piegas, seria um exemplo a ser dado ao lado de "Closer": uma realidade crua, mostrando as máscaras que criamos para nós mesmos.

Friday, January 20, 2006

Bom até que ponto?

Vendo a Record tomar um espaço cada vez maior na TV e ameaçando a hegemonia da Globo ao encostar no ibope de "Bang Bang" e do "Jornal Nacional" com a novela "Prova de Amor", fica a dúvida: até que ponto isso é bom?
A hegemonia de uma emissora de TV em cima da transmissão aberta em um país nunca é boa. Os telespectadores ficam condicionados a assistir ao canal e assim cria-se uma rotina que impede a originalidade e a ousadia na criação de programas.
O problema é essa hegemonia ser quebrada da maneira como está sendo. Primeiro porque a Rede Record não faz distinção entre igreja e entretenimento. "Permitir" que uma emissora que prega uma religião em seus intervalos e programas fique tão popular, pode significar o crescimento da Igreja Universal em uma época em que precisamos cada vez mais que as religiões parem de influenciar em outros setores da sociedade.
Mas a questão não é nem essa. A Record ganha força fazendo exatamente o que a Globo faz, tirando profissionais da emissora e portanto importando o "padrão globo de qualidade". De que adianta dividir os telespectadores com uma novela com trama batida e atores bonitos e conhecidos? Ou reformular o jornalismo contratando profissionais da Globo e demitindo o âncora opinativo que imprimia um pouco de ousadia e opinião, coisa rara nos telejornais?
Portanto, não adianta quebrar a hegemonia de uma emissora de tv se for repetir o mesmo estilo e padrão da emissora líder e ainda por cima enfiando religião no meio. A TV brasileira carece de ousadia, programas mais educativos e ao mesmo tempo divertidos, que acrescentem algum tipo de conteúdo útil às cabeças das pessoas.
Enquanto a audiência se dividir entre produtos iguais, não faz diferença uma o ibope ser monopolizado por uma ou por várias emissoras.

Friday, January 06, 2006

Na mesma

Não é novidade que emissoras de TV lançem novelas a fim de aproveitar o filão explorado pela Rede Globo, que movimenta tanto dinheiro e alcança altos índides de audiência.
Em 1990, a extinta TV Manchete lançou “Pantanal”, novela de Benedito Ruy Barbosa. Ela tinha a até então desconhecida Cristiana Oliveira como protagonista e o diretor foi Jayme Monjardim, um dos mais cobiçados da Globo atualmente. O resultado foram índices altíssimos de audiência, o que levou ao fim do humorístico global “TV Pirata”, exibido no mesmo horário, e levou o “Jornal da Globo” a amargurar o segundo lugar na audiência durantes meses.
Depois dela, algumas novelas de outras emissoras conseguiram um sucesso preocupante para a Globo, mas que não chegou nem perto do fênomeno que foi Pantanal. Prova disso é que os direitos da novela foram vendidos para a emissora e vai ganhar nova versão mais de 15 anos depois da exibição.
O motivo de tanto sucesso foi a inovação de usar cenas externas, belos cenários e uma trama diferente de tudo que já havia sido visto. O enredo contava a saga de três gerações de uma família de fazendeiros, mas tinha direito a mulher virando onça.
Depois de anos sem ter sua hegemonia ameaçada, eis que novas investidas voltam a preocupar a TV Globo. O sucesso de “Essas Mulheres”, na TV Record, deu a força necessária para o investimento em atores consagrados da concorrente, colocando um elenco de peso à frente de “Prova de Amor”. Apesar de não ter a qualidade técnica da Globo, a novela ganhou força com o fracasso de uma trama ousada no mesmo horário, “Bang Bang”. Provavelmente um indício de que o público não procura mais ousadia e diversificação. Os telespectadores de hoje, ao contário dos de quinze anos atrás, querem a mesma fórmula de antes com alguns novos elementos que disfarcem.
“Que Rei Sou Eu?”, trama global exibida às 19h em 1989, tinha personagens com nomes franceses e diversas citações à Revolução Francesa. Foi um sucesso. Portanto, os nomes americanos e o estilo de faroeste presentes em “Bang Bang” não são desculpa para o fracasso da trama. Nem a inexperiência de Fernanda Lima, afinal, Cristiana Oliveira também era desconhecida quando se tornou a estrela que protagonizou a novela da Manchete.
Novelas de época com tramas de escravos e imigrantes ou novelas atuais com separações de bebês e vilões maquiavélicos são o grande atrativo do público. Inovações sutis como uma trama sobre reencarnação ainda conseguem alavancar uma novela, mas criar outro ambiente radicalmente diferente do usual se tornou arriscado.
Enquanto espera-se uma evolução da sociedade que obrigue mudanças e inovações, o que realmente parece estar acontecendo é um crescente conservadorismo, um sentimento de que não querem mudanças e novidades, mas uma rotina televisiva que não se afaste do que buscam hoje em dia: o triunfo do bem sobre o mal com um final feliz e romântico.