Friday, February 24, 2006

Força da Natureza

O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain; EUA/2005)
Quando um filme toca forte um espectador, creio que fica mais difícil de analisá-lo. E confesso que isso atrasou meu texto sobre “O Segredo de Brokeback Mountain”. Após assistir ao filme 3 vezes, creio que é mais interessante analisar os sentimentos e os personagens do que o próprio filme, mas acho que isso não cabe a mim.

Ang Lee se livra dos preconceitos ao filmar uma incrível história de amor entre dois homens de uma forma rara. O mais impressionante da obra talvez seja a sutileza com que ele a conduz. Fica claro que o importante ali é o amor, não o sexo de seus protagonistas ou o desejo sexual de um pelo outro.

Tudo é bastante realista, mas de certo modo caricato, como a própria realidade. Os caubóis apaixonados são, à primeira vista, brutos e durões em excesso. Mas ao olhar de perto, percebe-se pequenos gestos e olhares que demonstram o desejo de Jack Twist por homens e Ennis del Mar como uma pessoa carente, que tem na sua solidão e dureza uma “casca” para seu interior frágil. A “casca” fala mais alto ao criar o medo e a culpa que ele sente daquela relação proibida.

O diretor exalta ainda a masculinidade de ambos e as desastradas vidas que eles levam longe da montanha onde são livres para se amar. As esposas Alma e Lureen são personagens incômodas, que nos deixam nervosos quanto entram em cena.

Assistindo em salas lotadas nos cinemas cariocas, percebe-se reações curiosas no decorrer do filme. O início da relação e seus conflitos – como Alma ou o chefe deles, Aguirre, descobrindo o romance – são acompanhados de mal-educadas gargalhadas. Os risos persistem durante um tempo, mas cessam quando entramos em um estágio de deslumbramento e dúvida: será que um amor proibido pela sociedade da época e cercado de aflição e dificuldade vai resistir ao tempo?

O objetivo de “O Segredo de Brokeback Mountain” pode ser conseguido facilmente por qualquer espectador que não seja um reacionário preconceituoso: esquece-se que são dois homens e passa-se a torcer para que esse amor seja infinito. Dá-se, então, assim como a mãe do caubói Jack, a benção a uma das coisas mais belas e importantes da vida.