Friday, January 06, 2006

Na mesma

Não é novidade que emissoras de TV lançem novelas a fim de aproveitar o filão explorado pela Rede Globo, que movimenta tanto dinheiro e alcança altos índides de audiência.
Em 1990, a extinta TV Manchete lançou “Pantanal”, novela de Benedito Ruy Barbosa. Ela tinha a até então desconhecida Cristiana Oliveira como protagonista e o diretor foi Jayme Monjardim, um dos mais cobiçados da Globo atualmente. O resultado foram índices altíssimos de audiência, o que levou ao fim do humorístico global “TV Pirata”, exibido no mesmo horário, e levou o “Jornal da Globo” a amargurar o segundo lugar na audiência durantes meses.
Depois dela, algumas novelas de outras emissoras conseguiram um sucesso preocupante para a Globo, mas que não chegou nem perto do fênomeno que foi Pantanal. Prova disso é que os direitos da novela foram vendidos para a emissora e vai ganhar nova versão mais de 15 anos depois da exibição.
O motivo de tanto sucesso foi a inovação de usar cenas externas, belos cenários e uma trama diferente de tudo que já havia sido visto. O enredo contava a saga de três gerações de uma família de fazendeiros, mas tinha direito a mulher virando onça.
Depois de anos sem ter sua hegemonia ameaçada, eis que novas investidas voltam a preocupar a TV Globo. O sucesso de “Essas Mulheres”, na TV Record, deu a força necessária para o investimento em atores consagrados da concorrente, colocando um elenco de peso à frente de “Prova de Amor”. Apesar de não ter a qualidade técnica da Globo, a novela ganhou força com o fracasso de uma trama ousada no mesmo horário, “Bang Bang”. Provavelmente um indício de que o público não procura mais ousadia e diversificação. Os telespectadores de hoje, ao contário dos de quinze anos atrás, querem a mesma fórmula de antes com alguns novos elementos que disfarcem.
“Que Rei Sou Eu?”, trama global exibida às 19h em 1989, tinha personagens com nomes franceses e diversas citações à Revolução Francesa. Foi um sucesso. Portanto, os nomes americanos e o estilo de faroeste presentes em “Bang Bang” não são desculpa para o fracasso da trama. Nem a inexperiência de Fernanda Lima, afinal, Cristiana Oliveira também era desconhecida quando se tornou a estrela que protagonizou a novela da Manchete.
Novelas de época com tramas de escravos e imigrantes ou novelas atuais com separações de bebês e vilões maquiavélicos são o grande atrativo do público. Inovações sutis como uma trama sobre reencarnação ainda conseguem alavancar uma novela, mas criar outro ambiente radicalmente diferente do usual se tornou arriscado.
Enquanto espera-se uma evolução da sociedade que obrigue mudanças e inovações, o que realmente parece estar acontecendo é um crescente conservadorismo, um sentimento de que não querem mudanças e novidades, mas uma rotina televisiva que não se afaste do que buscam hoje em dia: o triunfo do bem sobre o mal com um final feliz e romântico.

2 comments:

Anonymous said...

Suas comparações são excelentes, Phil. Tiram do mentiroso a contradição. São desculpas "mercadológicas" para não macularem as mentes maravilhosas que fazem esse péssimo produto. É fácil perceber como os erros são simples consequência da pressa. Pressa em atender aos resultados do Ibope e da "opinião pública", para atender ao merchandising exagerado, aos temas sociais da moda... Lamentável.

Anonymous said...

O problema vai ser a Rede Globo conseguir ousar nas cenas de sexo e nudez como fez a Manchete. E outra que quem acompanhou a primeira versão não vai dar muita bola para a refilmagem da Globo (o meu tio, por exemplo, não perdia um único capítulo pra ver a Juma Marruá). Some-se a coleção de frustrações que a Globo costuma causar nos espectadores que esperam mais ousadia (vide o veto do beijo gay no último capítulo de América). Enfim, enquanto imperar o conservadorismo, a dramaturgia na televisão brasileira vai continuar na retaguarda da ficção, com o seu sempre público previsível e mediano. Viva a estagnação!