Saturday, October 07, 2006

Incompreensão humana


Na Bíblia, a torre de Babel foi construída pelos descendentes de Noé e foi castigada por Deus, que fez com que cada um falasse um idioma diferente. Assim, ninguém se entendia dentro dela. É Babel que dá o nome ao filme de Alejandro Gonzalez Iñárritu, onde a incompreensão é um dos temas principais.
Usando o mesmo estilo que o consagrou, o roteirista Guillermo Arriaga ( de “21 Gramas” ) usa histórias desencontradas que se cruzam no final. O enredo é construído mostrando um mesmo tiro que atinge a vida de um casal americano, uma babá mexicana, uma família marroquina e uma adolescente e um pai japoneses. Mesmo que a ligação com a história soe um pouco forçada no último caso, o resultado não ficou comprometido.
Mais do que turistas americanos tentando falar inglês no Marrocos ou uma jovem surda-muda tentando ter uma relação amorosa, a incompreensão do filme é mais subjetiva, vem da alma de cada personagem.
O filme ainda traz um bom paradoxo com a diluição de fronteiras, aproximando cantos do mundo numa subversão do espaço físico, mas totalmente possível nos dias de hoje – e sem mencionar a Internet.
Brad Pitt e Cate Blanchet fazem atuações sóbrias na medida que o filme pede, Gael Garcia Bernal aparece quase inutilmente ( apesar de boa atuação, o personagem é quase dispensável ) e os atores desconhecidos dão a credibilidade que marca o tom de Babel.
A atmosfera pesada estende-se por todo o filme, mas é minimizada por um final esperançoso. Ao fim, tem-se a impressão de que ninguém está falando a mesma língua. Por mais que se entenda as palavras, a compreensão depende de muito mais.

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