Sunday, April 23, 2006

Com saudades dos amigos

No final de 1994, uma idéia aparentemente banal ganhou o horário nobre da NBC, uma das principais emissoras de TV americana: o seriado “Friends” mostrava a vida de seis amigos de 20 e poucos anos que viviam em Nova York. O que poderia ser mais um seriado mediano de humor transformou-se em um fenômeno de audiência e referência de séries de humor no mundo todo.
Portanto, foi muito sensato dos produtores decidir acabar a série quase no auge, depois de dez anos de sucesso e dos atores chegarem a cachês milionários ( em 2004, cada um ganhava um milhão de dólares por episódio ). Afinal, insistir em mais temporadas poderia levar “Friends” a um fracasso que obrigasse o seu fim e possivelmente acabasse com toda a repercussão em torno do programa.
A fórmula do sucesso parece simples. Roteiristas afiados, um elenco primoroso e muito bem escalado, participações especiais bem escolhidas e situações próximas do real, mas expondo o que a vida tem de mais engraçado. “Friends” não envelhece, é uma série para ver e rever em qualquer época.
Mas em busca de mais sucesso e de continuidade das cifras milionárias que o seriado movimentou, os executivos da NBC tentaram segurar aquele público fiel de alguma forma. Foi aí que os produtores sugeriram um spin off ( nome dado a um seriado que deriva de outro ) com o personagem Joey Tribbiani, interpretado pelo ótimo Matt Le Blanc. A idéia já deu certo outras vezes, mas ninguém pareceu entender o principal motivo do sucesso da série original.
Ao longo de dez anos, o público se envolveu com a história de seis amigos. Quem protagonizava “Friends” não era nenhum dos seis, mas sim a amizade que existia entre eles. E por isso, separar qualquer um dos personagens não poderia dar certo. Quebraria o que tanto encantou telespectadores. Perto do final, os personagens estavam mais caricatos, já que a característica mais marcante de cada um era exaltada ao máximo, para garantir que o público continuasse rindo e acompanhando.
Sendo transportado para outro programa, Joey perdeu boa parte das características que o marcaram e ficou perdido entre uma história já construída em outra produção e novas características que precisam ser controladas. Os coadjuvantes, apesar de bons atores, acabaram ficando extremamente caricatos, para compensar a apatia do personagem principal.
As piadas ficam repetitivas e ninguém consegue brilhar, nem mesmo o talentoso protagonista ou a engraçadíssima Jennifer Coolidge, que interpreta a empresária maníaca de Joey. No último episódio exibido, o público conheceu o pai de Joey. Para quem acompanhava “Friends”, era de se esperar um italiano burro, guloso e engraçado, que fosse uma versão mais velha de Joey. Mas eis que surgiu um americano gordo, rabugento e sem graça. Quando Joey fala alguma besteira, fica um vazio, a audiência acostumada a série antiga espera o comentário irônico de Chandler ( Matthew Perry ) a cumplicidade de Phoebe ( Lisa Kudrow ).
Tentando se distanciar da série que o originou, Joey perde suas características e seu público. A audiência vem despencando nos Estados Unidos e assim ele perde os fãs de “Friends” que o acompanharam e não conquista uma audiência própria. A opção é comprar os DVDs da série original e rever os episódios antológicos de um dos melhores enlatados americanos já produzidos.

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