Thursday, April 13, 2006

E sem precisar de prêmio...

Edifício Master (Brasil, 2002)
Dirigido por Eduardo Coutinho

Se no “Big Brother Brasil”, nem o prêmio de um milhão de reais e nem a projeção nacional conseguem deixar os participantes interessantes ou fazer com que a produção selecione um elenco com algum conteúdo, no documentário “Edifício Master”, dirigido por Eduardo Coutinho e lançado em 2002, os personagens nos levam a uma viagem por um prédio que abriga uma incrível diversidade e histórias impagáveis.
O lugar existe em Copacabana. Antigo reduto de travestis e prostituição, o edifício Master, hoje, é um prédio mais familiar, mas que por ser muito grande, pode ter qualquer tipo de morador. Em busca dos melhores personagens, Coutinho e sua equipe entrevistaram os moradores que estivessem dispostos a aparecer na produção.
O resultado é uma boa seleção, com pessoas interessantes de se ver e ouvir. Cada um com sua particularidade, muitas vezes nos surpreendendo com tamanha sinceridade com que contam suas vidas diante da câmera. O mais importante é que o filme nos apresenta esses personagens sem julgar ou sem discutir. Fica claro que o protagonista do documentário é o prédio onde todas essas figuras convivem.
Eduardo Coutinho não apresenta nenhum estudo sobre o edifício Master. Não tenta achar ou definir nada. O interessante está exatamente aí, na sinfonia desafinada composta pela mistura de depoimentos tão diversos. Na montagem proposta pelo diretor, porém, os depoimentos menos interessantes foram deixados para o final, o que faz com que o filme perca um pouco do ritmo a medida em que vai acabando. Isso não compromete o resultado final, ainda mais porque no DVD é possível assistir aos depoimentos de forma aleatória, mas a montagem oficial deveria ter tido o cuidado de intercalar os destaques.
Falta também ao filme personagens mais polêmicos, o que pode ter sido opção do diretor. Para que não parecesse uma tentativa forçada de criar repercussão, personagens que criassem esse efeito provavelmente foram eliminados na seleção. Isso fica evidente ao perceber o modo como situações que poderiam ser chamariz para desviar a atenção do espectador são mostradas com discrição e leveza.
Se a cúpula da TV Globo fosse esperta, já teria cadastrado os moradores do edifício para usar na seleção do Big Brother.

1 comment:

Anonymous said...

É bem do Coutinho a despretensiosidade com os personagens, apesar de sabermos que ele dirige, como faz qualquer outro cineasta. Sobre a rede globo, vale lembrar que o Coutinho produziu vários programas no Globo Repórter, quando o programa ainda era interessante. Abraço!