Caché (França, 2006)
Dirigido por Michael Haneke
Dirigido por Michael Haneke
Poderia ser um enredo de thriller americano: um casal comum e bem-sucedido começa a receber fitas de vídeo que monitoram a entrada e saída da casa e desenhos de um boneco jorrando sangue. Poderia, mas não é.

O enredo nos conduz a uma história de desestruturação familiar, onde segredos banais tomam dimensões exageradas e revelam aspectos da vida cotidiana que os personagens inconscientemente escondiam. A vida do casal e do filho de 12 anos passa a ser manipulada pela pessoa que envia as fitas e assim desenterra fantasmas do passado. “Caché” não entra no rótulo de filme de mistério, mas pode ser definido como um filme misterioso. Não pela condução do roteiro, mas pela multiplicidade de interpretações e dúvidas que é capaz de produzir.
Beirando o pânico, a dona-de-casa vivida por Juliette Binoche questiona os segredos que o marido interpretado por Daniel Auteuil não acha necessário expor. Sem escancarar seu foco, o longa é conduzido em uma narrativa quase entediante que transpõe exatamente o ritmo em que vivem os personagens. A sutiliza e o lugar-comum ajudam a compor e entender a idéia de que não importa quem ou por que as fitas estavam sendo enviadas, mas o quão vulneráveis são as pessoas.
Em “A Professora de Piano”, a personagem de Isabelle Huppert esconde a perversão sexual atrás de uma postura rígida e fria. Em “Caché”, o protagonista George esconde outro tipo de perversão, a de um ato egoísta quando criança, atrás de uma apatia melancólica.
Mais do que um drama sobre a queda de uma família normal, o filme é um conto atual sobre o poder das imagens, da falta de privacidade e da tentativa das pessoas de seguirem com suas normas e apatia pré-estabelecidas.
A produção francesa brilha e brinca com o título (“caché” significa “escondido”) e com o espectador, revelando-se aos poucos e provocando sensações próximas da realidade cotidiana de cada um.
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