Wednesday, March 08, 2006

Surpreendente, pero no mucho

Pelo segundo ano consecutivo, o Oscar contrariou as expectativas gerais e o prêmio de Melhor Filme não foi para aquele que era considerado o “favorito”, muitas vezes baseado não só na repercussão da produção, mas no resultado de outras premiações, como o Globo de Ouro.
É verdade que o resto da cerimônia desse ano foi regado a muita previsibilidade, mas isso aumentou ainda mais a surpresa do final estarrecedor. Em 2005, “O Aviador” tinha tudo para ser um arrasa-quarteirão no Oscar e dar finalmente o prêmio a Martin Scorsese, mas o azarão “Menina de Ouro”, de Clint Eastwood, acabou levando a melhor.
Em 2006, o espanto foi ainda maior. Todos os jornais, cinéfilos e até os pouco entendidos davam como certa a vitória de “Brokeback Mountain”, o drama sobre o romance de dois caubóis. O diretor do filme, Ang Lee, arrebatou o prêmio de “Melhor Direção”, o que aumentou a certeza de que a estatueta mais importante da noite seguiria nessa direção. O que aconteceu na “hora H”, foi Jack Nickolson anunciando alto e bom som: “...and the Oscar goes to: CRASH!”.
Foi realmente um crash para os espectadores. Nem a equipe do filme disfarçava o susto da vitória. Foi importante um prêmio para um enredo de racismo e preconceito étnico, mas ele acabou “roubando” a vez da consagração do amor homossexual visto com delicadeza e aceitação. Existem diversas teorias sobre o resultado, desde um favorecimento a um diretor que é praticante de uma nova religião cheia de adeptos em Hollywood, até a uma identificação dos votantes pela história se passar em Los Angeles.
Mas provavelmente a verdade é mais óbvia: a conversadora Academia não está pronta para glorificar um relacionamento entre dois representantes do maior símbolo da macheza hollywoodiana, tão famoso num filmes de faroeste. Preferiram reconhecer que “Brokeback Mountain” tinha a melhor trilha sonora, o melhor roteiro adaptado (quase original, pois foi criado a partir de um conto de 12 páginas), o melhor diretor... mas não é o melhor filme.
O resto da cerimônia seguiu bem. O novo apresentador Jon Stewart fez bonito e imprimiu sinceridade em piadas irônicas sobre o próprio evento e seus indicados. Os outros “favoritos” venceram como era esperado e o Oscar durou menos que o previsto, com as chatices habituais, mas abrindo mais espaço para a descontração e a agilidade.
Só nos resta esperar pelo próximo ano e tentar adivinhar se os membros votantes da Academia vão continuar surpreendendo o mundo. Uma coisa, porém, é certa: o suspense no final vai ser inevitável.

Em tempo: o que faz a única emissora aberta que possui os direitos de transmissão da festa, a Rede Globo, cortar as primeiras – e importantes – premiações para dar espaço ao Big Brother Brasil? Se é para ser assim, que não comprasse...

1 comment:

Anonymous said...

Considerações:
1) Acompanho, mas nunca levei na fé os resultados do Oscar, mesmo porque os "acadêmicos" contemplam os "sucessos" americanos. De "sucessos" americanos o UCI e o Cinemark estão cheios e sabemos que tem muita porcaria aí nesse meio. Tudo bem, para todo monopólio existem os monopolizados.

2) Diz-se por aí que "Crash", ou simplesmente o crash (com duplo sentido, por favor), só despontou na "Academia" duas semanas antes da votação. Parece que "O jardineiro fiel" é que ia ganhar essa vaga. Para nossa infelicidade, não recebeu a indicação.

3) Radical: ou dava o Oscar para "Brokeback Mountain" ou "Boa noite e boa sorte". Nem mais nem menos.

4) Desilusão: é melhor assistir ao Oscar com Rubens Ewald Filho do que com o Giovanni Improtta, que não foi nada "felomenal". O JK com os 50 anos em 5 também não deu jeito. O Wilker então... brrr!

5) A cara do Jack Nicholson: com aquele sorriso quase de monalisa não sei se ele gostou ou detestou o que leu no envelope secreto.

6) Saldo: saldo? dizem que a gente só usa essa palavra quando ele é positivo. Saldo positivo é redundante. Ora bolas!