Thursday, February 21, 2008

Sangue Negro


A seqüência inicial arrebatadora, onde impera o silêncio e uma fotografia contrastada e repleta de sombras negras que escondem as facetas de um homem dentro de um poço, conseguem a façanha de deixar o cinema em puro silêncio, onde os espectadores não desviam o olhar e se concentram em uma cena angustiante, cuja mudez é quebrada por barulhos propositais e por um som assustador muito bem produzido para a trilha sonora.


Com um começo pouco usual e assustador, "Sangue Negro" vai mostrando-se aos poucos, no decorrer dos acontecimentos imprevisíveis a que submete Daniel Plainview, o protagonista e senhor absoluto do filme. Após achar uma pedra preciosa e se ver obrigado a cuidar do bebê do amigo minerador que morre no poço, Daniel passa a procurar petróleo, em busca de crescimento financeiro. As puladas no tempo vão nos mostrando os pontos-chave da trajetória de um homem rude e misterioso.

Ao lado do filho adotivo, ainda pequeno, Daniel vai enriquecendo e tornando-se poderoso com sua exploração independente. E o filme vai ganhando poder junto com ele, ao intercalar o sofrimento e angústia contidos no personagem com sua ambição e leve tendência a atos insanos. A competência e o amor que adquire pelo filho contrastam com a dureza com que ele vive seus dias, voltado exclusivamente para seu trabalho e objetivo de ter dinheiro para viver bem. E é nesse caminho tortuoso que Daniel encontra o jovem pastor Eli, seu antagonista que rende alguns dos melhores momentos do filme, capaz de quebrar o silêncio da platéia em risos, uivos e comentários.
A atmosfera torna-se permanente no filme, onde tudo é obscuro. É praticamente impossível penetrar nos sentimentos dos personagens, que confundem o espectador a todo momento e não se deixam mostrar. Tanta ambigüidade aumenta o desconforto e o fascínio que o enredo provoca, que deixa visível a divisão por capítulos do livro, mas que torna excitante esperar pelo o que virá.

A trilha sonora compõe o terror que se impõe sobre o espectador e dá corda para Daniel Day-Lewis usar e abusar de sua excelência como ator, dando um show em cena e fazendo com que seja impossível imaginar o filme com outra pessoa. O resto do elenco o acompanha, como que tendo o cuidado de nunca tentar sobrepôr pessoas tão fortes como Daniel ator e Daniel personagem. O filme é dele e acerta ao se concentrar nele. Exibe o perfil de um homem atormentado sem que essa tormenta fique exposta. Internaliza os fantasmas e assim o faz com a platéia, que parece prender a respiração até o último segundo dessa trama magistral de Paul Thomas Anderson.

No comments: