Thursday, February 07, 2008

Conduta de Risco


Normalmente, bons profissionais costumam imprimir suas marcas nos filmes que fazem. Essa é a principal diferença entre “um filme de” e “um filme dirigido por”. E não é só na questão da direção, mas em outros aspectos técnicos que as marcas também fazem a diferença. Em “Conduta de Risco”, temos uma história aparentemente banal para um filme policial. O enredo envolve corrupção corporativa, ética profissional e dramas pessoais de um advogado brilhante que se vê desprestigiado após ficar viciado em jogos de azar. Quase uma mistura de “Erin Brockovich” com “Obrigado Por Fumar”.

O diferencial, porém, está no conteúdo desse roteiro, que traz um conteúdo mais profundo e elaborado, incomum para o gênero. Remete, assim, à Trilogia Bourne, série de filmes de ação estrelados por Matt Damon que mistura explosões com uma história coerente e interessante. A comparação tem sua razão de ser: o roteirista, Tony Gilroy, é o mesmo, e faz aqui sua estréia na direção, muito bem realizada, com tomadas criativas e um clima bem escolhido. A trilha sonora ajuda a compor a atmosfera do filme e lembra “Colateral”, do diretor Michael Mann. Novamente, com uma razão de ser: quem assina a trilha é o mesmo James Newton Howard.

E é dentro do caótico cenário escolhido que quase todos os personagens parecem sofrer crises de identidade, contaminados pelo vírus da sociedade moderna, consumidos pela ganância ou simplesmente pela necessidade de pagar as próprias contas. De George Clooney, o protagonista Michael Clayton, a Tilda Swinton, em uma brilhante interpretação da gélida Karen Crowder, o elenco está impecável e pode ser considerado o melhor do filme.

É interessante observar que “Conduta de Risco” faz parte da leva de filmes onde os tradicionais heróis nada têm de heróicos. São pessoas comuns, com tantos defeitos e problemas como qualquer ser humano, ou até mais do que a média, daí terem suas histórias interessantes contadas em uma tela de cinema. Os sentimentos melancólicos são tão sutis no protagonista como são extravasados pelo advogado interpretado por Tom Wilkinson, que garante algumas das melhores cenas do filme.

Seguindo a tendência de confundir para depois explicar aos poucos, presente no já citado Bourne, Gilroy é competente em sua intenção e ligeiramente pretensioso em fugir a alguns estereótipos e deixar espaço para a reflexão, cuja fama foi puxada pelo talento, inclusive como produtor, de Clooney, atual queridinho de Hollywood. No final, nos faz lembrar a diferença entre um bom filme e um grande filme. Esse, sem dúvida, é bom.

1 comment:

Eduardo Miranda said...

Eu bem sei que você não gostou tanto do filme quanto eu, mas mesmo assim fez um texto que é justo com o filme. É mesmo no conjunto que o filme cresce: nas atuações (George Clooney tem acertado muito na escolha de trabalhos), na direção, no roteiro, na fotografia que também faz lembrar Colateral, no excelente trabalho de som e de trilha sonora. Enfim, um enredo não muito inovador que, trabalhado de modo competente, consegue se tornar um grande filme. Eis o desafio.