Sunday, February 03, 2008

Onde Os Fracos Não Têm Vez

A impressão que fica após assistir "Onde Os Fracos Não Têm Vez" é a de um episódio. Um episódio de uma história de um país, ou mehor, de uma região de um país, onde cidadãos caipiras brincam de mocinho e bandido enquanto vivem suas vidas. Nesse caso, mostra um pouco do começo da história de um país, um fragmento do começo de uma época revolucionária para os costumes da sociedade.


O título original, que diz que não há país para homens velhos, joga o foco sobre o real protagonista da trama, o xerife Ed Tom Bell, que está prestes a se aposentar. Cansado de tudo, ele se vê às voltas com um último caso a resolver, o de uma chacina provocada por um misterioso mas conhecido bandido. Trata-se de um fragmento na vida do personagem e assim ele é apresentado ao espectador: como um fragmento, sem começo e sem fim. Apenas a última "missão" de um policial que não se importa o suficiente com ela, indo na contramão de todos os heróis americanos do velho oeste, inúmeras vezes retratados no cinema.


A opção dos irmãos Ethan & Joel Coen em ir na contramão do herói intocável de faroeste não poderia vir em melhor hora, no momento em que o país retratado prepara-se para se despedir daquele que pensa (ou tenta) ser a personificação maior do herói de bang-bang, o presidente texano George W. Bush. É importante e fundamental que um filme que expõe toda a fragilidade do sonho caipira texano em ver figuras heróicas e perfeitas idealizadas nas telas de cinema, por tanto tempo, vá por água abaixo em um retrato mais fiel e cru da realidade.


Ao abolir a trilha sonora e qualquer traço de suavidade cinemategráfica, os diretores expõe uma fábula extremamente violenta, sem que para isso precise apelar para o sangue e cenas explícitas. A violência incomoda da mesma maneira quando o filme opta pelo o que deve ou não ser mostrado, quando a cena fica discreta e implícita.


O elenco afiadíssimo completa as qualidades do filme. Mas nem as ótimas interpretações do veterano Tommy Lee Jones e do pouco conhecido Josh Brolin conseguem tirar o brilho de Javier Barden. Ele rouba o filme e faz o cinema gelar cada vez que o maníaco Anton entra em cena. Os espectadores ficam absolutamente hiponitizados por sua presença marcante e débil. Se depender do ator de 38 anos, que estourou nos cinemas há pouco tempo e que sem dúvida ainda tem muito caminho pela frente, e dos diretores, os dois com mais de 50 anos, há lugar, sim para os mais velhos.



2 comments:

Eduardo Miranda said...

Phil, muito boa sua observação sobre o declínio do tradicional cowboy, interpretado pelo Tommy Lee Jones, num momento em que os americanos e o mundo se despedem do cowboy prepotente e fracassado George W. Bush.

E Javier Bardem: brilhante!

Anonymous said...

Good post.